OPORTUNAS REVELAÇÕES

Em primeiro lugar, agradeço a interlocução. Em segundo, parece-me que o que está em pauta é o texto e não o seu criador. A análise a ser feita, o foco, em literatura, é sempre o texto. O autor é variegado, porque não é somente ele, e sim todos os seus alter egos. Mas, como és do naipe feminino, a ótica é, em regra, a possessão sobre a criatura humana em sua pessoalidade, e não o que promana dela esteticamente. O teu bem-vindo perfil (que te dizes adepta do existencialismo sartreano) mais me cheira a Ortega y Gasset: "Eu sou eu e minhas circunstâncias". Pobre do autor! Sempre a projeção de quem o lê implicitamente o atinge (ainda mais se disponível presencialmente ou nas redes sociais) na interpretação do que o mesmo quis dizer em sua obra. Grato, de qualquer forma, pela louvação a este amigo escriba. Gostaria que a regra fosse esta: aproveita a sugestão do tema – que beira à filosofia – e deixa que esta te envolva. Porém, compreendo também que estás tentando abrir a "lata de sardinhas" de minha psique. Atingido o intento – aberta – nunca mais seremos os mesmos. Enfim, coloca-se em prática o que foi aprendido em sala de aula e na escola da vida. E esta adequação entre o literário e o mundo dos fatos não é tarefa fácil. Primeiro porque aquilo que provém da criação literária é farsa e fantasia vivificadas; em segundo, porque viver é o desafio de nunca sermos unos na convivência e sempre profundamente diversos no pensar. Daí a riqueza de ambos.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014/15.

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