SUBINDO A LADEIRA

Ergo meus olhos cansados, Uma nuvem branca paira sobre minha visão.

Degraus se enumeram num sequencial de glórias. A altitude conquistada proclama desafio em cada hora. Desço o olhar ao redor o vale é sombrio e o vento espiral

Sinistramente procura sugar-me aos confins de um túnel de sórdidas lembranças.

De fragilidade é feita a minha bagagem. Fui lançada no absoluto que há entre a distância do alto a baixo. Um espírito das trevas ecoa sua voz nos meus tímpanos inflamados de vãs palavras e insulta-me. Nesse agudo infernal, explode o cristal

da intimidade do meu ser com o divino e ouço a suavidade de um falar que diz:

- A decisão somente a você pertence. A influência mede a capacidade da escolha. Eu te influencio a subir, a enrijecer os músculos através do esforço que lhe fará vencedora com as dores da determinação. E continuou: - todo subir é árduo, a pressão é preciso senti-la. Em determinadas alturas o oxigênio parece faltar e as forças se esvair. Não esmoreça. Retire o pó do cansaço, atice a brasa da coragem e deixe que as asas da ousadia levantem altas chamas e aqueça-se do frio temor. A maior intensidade do sol é quando sua posição está no alto, e mesmo que este venha a declinar, existirão no escuro os pontos brilhantes - as estrelas que piscam num namoro a conquista. O brilho é devedor do escuro. Nesse paradoxo os afins se realizam.

Subindo a ladeira transitei o áspero, alonguei o corpo, calcei de pó os pés, lavei o meu rosto na fonte do suor, suor e sangue secado ao vento que desalinha minhas cãs e some.

Subindo a ladeira Aprendi que a grandeza do alto e a profundidade do despenhadeiro, São separadas pela linha do equilíbrio, risca que une as diferenças.

Jair Martins

09/12/05 - 22h40