Montes Claros e suas peculiaridades: entre saias, rock e dissertações ferinas.
A cidade é, não literalmente, pequena. Mas nos movimentamos, sempre, uns entre o outros com aquele costume romântico de cidade do interior: falando da moral alheia. Não digo eu ou você, mas a maioria. Eis o "palco" onde originam-se falácias, maledicências, inveja e falsos julgamentos. Onde namorados(as) pousam de santos apaixonados; onde "amigas" derrubam, pelas costas, umas às outras; onde funcionários da principal loja de conveniência da cidade sacam seus celulares em plena madrugada para registrarem ritualmente "quem pega quem" numa esquina qualquer. Gays apanham (ou são assassinados) por, simplesmente, serem gays; homens parecem não respeitar mulheres quando estão sozinhas (salvo lá senão, também acompanhadas); onde não se pode confiar em ninguém porque as mentiras inventadas não afetam apenas os interlocutores, mas uma longa fileira de dominós. A cidade do sol, às noites, não dorme porque seu olhar é vigilante quanto ao meio social e até íntimo de cada um. Boatos 'avalancham-se', mãos derrubam e flashes profanam. Roupa curta, aqui sim, é motivo de estupro e (re)estupro (principalmente verbal); educação é confundida com 'pagação de pau' e ser rockeiro quer dizer: drogado-marginal-imoral-sujo. Aqui você não tem Nome, precisa ter SOBREnome. Ninguém pode ter identidade porque a pergunta deixa claro: "você é filho de quem?" Na cidade da lagoa da Pampulha-suja-sujíssima as pessoas são mais sujas ainda. A orda esconde a própria poeira debaixo dos tapetes e tem vício predador de esparramar a alheia. Aqui cachorro é respeitado se tiver carro do ano (mesmo financiado em 2145 vezes/a vida inteira/eternamente) e criança que pede dinheiro em sinal é proibida de entrar em sorveteria (pagando com suas suadas moedinhas) por um sorvete apenas. Aqui ex-namorados são inimigos de guerra declarados, caras recusados difamam mulheres e palavras são desesperadamente aumentadas. Aqui policia faz blitz para aparecer, dá 'batida' (em ambos sentidos) em maconheiros inofensivos enquanto dormem após pedido urgente de socorro de qualquer cidadão que seja não morador do São Luiz/Ibituruna (e mesmo assim, olhe lá). Aqui agentes do trânsito multam carro parado em porta de hospital enquanto estacionam suas viaturas em local proibido. Aqui motoqueiro faz o que quer, mulher de político faz o que bem entende e médico joga Candy Crush no plantão (só pode! Afinal, a má vontade e preguiça reinam). Aqui as suas roupas, suas contas, seus afetos, seu sexo, sua voz, seus desejos são veementemente dirigidos, observamos, repassados (de forma pior e maldosa), julgados de modo que nem a Compadecida tem poder de mediar. O sol retoma a imagem do inferno, não pela temperatura climática , mas pela temperatura das más línguas que adjetivam e crucifixam sem conhecerem. ‪