DE COMO A TEORIA SE REFLETE NO TEXTO

“Já enviei o meu texto por e-mail. O senhor, como escritor e crítico, analise e comente para que eu possa aperfeiçoar a minha escrita.”.

– excerto de diálogo privado com um autor muito talentoso, que pede oficinação via internet. (16Jan15)

Não faço este tipo de análise literária, estimado confrade, a não ser que o autor esteja se aperfeiçoando com a leitura de minha lavratura, com vistas a entender e, talvez, compreender os meus códigos e posturas analíticas.

Sempre recomendo que o poeta ou escriba-leitor vá fazendo a sua interlocução, ou no Recanto das Letras (no espaço "Comente"), ou no Facebook, ao pé dos textos, entendes? E não tenho encontrado nenhum comentário recente (teu) no RL e nem no Facebook, daí que não sei o que pensas, nem tenho como avaliar os pensamentos traduzidos em vocábulos, etc. Como fazer se ainda não possuo informações suficientes, a ponto de conseguir abrir os teus códigos?

De nada adianta avaliar o que o autor novo ou novato escreveu à guisa de texto definitivo, se não sei o que ele sabe ou pensa que sabe. Por causa desta postura descuidada com a cabeça do leitor/autor (há vários pares de anos) já fui mal-entendido e até um iniciante e desorientado poeta (do qual nem me lembro de quando o conheci e se alguma vez dei algum pitaco em sua obra) me chamou de "prepotente"... Tudo porque, em verdade, o autor não queria estudar literatura, para, depois, com a introjeção dos conceitos e procedimentos técnicos aplicáveis, melhorar esteticamente o seu texto...

E o pior é que esta a regra é comum aos autores iniciantes: só querem saber se o seu texto está esteticamente bom, e nada de estudar os porquês que levam o analista a fazer tal ou qual observação, não tanto por não ter suficiente preparo próprio, e sim porque o que ele anseia é uma opinião ou um parecer que lhe seja laudatório, positivo, entendes? Escrever é saga difícil e que exige tempo de experimentação.

Sem a interlocução entre o autor novato e o crítico – não pelo texto apresentado, porém pelo que é muito anterior à criação do poema ou do texto – em nada resultará acrescido à cabeça do autor proponente da análise, nem ao analista.

A teoria literária ou concepções psíquicas do autor do trabalho estão subjacentes ao texto enviado para receber análise. Lembra-te que do "nada nasce o nada", a não ser que o crítico se depare com a obra de um gênio. E este espécime da genialidade nasce somente um a cada milênio... Repito: um a cada mil anos, em cada idioma, segundo as estatísticas.

Se estiveres com a cuca prenhe de questionamentos, o texto vai sair rico em antíteses, se não, é a mesma usual chatice das rimas, da contagem silábica, dos jargões introjetados graças à leitura acumulada e a costumeira repetição (pleonástica) dos palavreados, sem a utilização das figuras de linguagem – especialmente a metáfora – dos cuidados com as regras de construção gramatical e a riqueza de linguagem. Alguns desavisados ou néscios até acham que a existência do “dom de escrever” exclui tudo o que disse até agora. Ledo engano...

Horácio, o príncipe dos poetas latinos (morto aos oito anos depois de Cristo), já dizia – naquele tempo – que um bom poema deve maturar nove anos antes de sair da gaveta. Isto para os novos, os ainda não iniciados, porque depois do "cachimbo deixar a boca torta", os textos vão saindo com mais segurança e com menos tempo de espera para o amadurecimento destes. Ainda mais com os recursos que a contemporaneidade trouxe...

Assim, desejo que me auxilies para que comecemos nosso diálogo analítico-crítico: é necessário leias os meus escritos nas modalidades do Recanto das Letras denominadas TEORIA LITERÁRIA, TUTORIAIS, ENSAIOS e outras que te aprouverem. Lê e relê o texto, e, se for possível, deixa um comentário, que vou lê-lo mais tarde, quando comparecer ao RL.

Assim é que se começa um diálogo produtivo, certo?

Peço escusas, mas procurei ser profundamente objetivo, direto, de modo a que não frustre tuas expectativas nem te cause qualquer desgosto devido à profundidade (ou não) da análise crítica que farei sobre o teu produto verbal. Serás sempre bem-vindo ao diálogo literário.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/5103856