O AUTOR COMO PESSOA

Sim, é necessário aprender a conviver com as condutas diferenciadas de tua concepção e aceitá-las como naturais. E acresça-se: quanto mais "maluco" o escritor – mais desarrazoado frente aos padrões da normalidade – mais talento a revelar, especialmente dentre a fauna dos poetas. Com seus patamares psíquicos individuados, os criadores em Poesia têm maior ou menor criatividade e originalidade, e segundo este "tonus" personalíssimo, alguns conseguem fixar novos e ousados padrões de escrita até então não aceitos pela comunidade leitora ou receptora. Há, especialmente nos poetas, uma tendência à bipolaridade psíquica e os estados depressivos alternados pela eventual euforia, são muito comuns. Nestas contingências, o autor deseja sempre estar “por cima”, vale dizer, para mais além dos seus colegas praticantes do ofício da escrita, porque esta situação lhe alimenta o ego. Este estímulo e outros acrescidos vetores circunstanciais auxiliam na liberação do alter ego altamente criativo que o habita. Sem muita resiliência, quase sem nenhuma concessão ao outro, quer é poder ser notado pelo entorno social. E daí que os seus juízos são em regra assentados nessa ótica precária e possessiva, mesmo que seja uma ótima pessoa, um cidadão útil e aparentemente solidário, porém em verdade, um criador de oportunidades para dizer-se presente a um determinado momento; porém nem sempre quer aparecer a todo instante, com temor de ver-se traído nos mais escondidos desejos midiáticos. E sinto que o conceito é válido para ambos os sexos. Bem, isto tudo só para dizer que ainda há muitos caminhos a percorrer e que depende de nós mesmos as correções de rota. A criatura humana é imperfeita por natureza. Em verdade, em nome da Poesia e da Confraternidade estamos nos fazendo amigos, porque a Amizade é uma flor do Tempo. Pacienciosamente, desejo sentir o perfume floral, que nem sempre chega às minhas narinas em olores fortes.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2015.

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