ORAÇÃO DA BORBOLETA

Devido à entrega da autora ao momento pessoal em que vive e o seu belo relato textual, sou instigado, espontaneamente, ao estudo analítico da proposta literária nele contida. Intuo que nada há de “fingimento”, como aponta Fernando Pessoa, a teor de seu “Autopsicografia”.

“SÚPLICA

Nina Isnardi

Te peço, Senhor, não alivies os meus ais. Falta-me merecimento. Porém suplico-te: aplaca a ira daqueles que desejam crucificar-me! E não deixes que joguem pedras na minha cruz, porque sei, não resistirá e serei jogada no abismo do esquecimento. Portanto, tem piedade! Mas se a Tua mão não puder evitar a queda e a cruz desabar como sobrepeso ao meu corpo, quando nada mais restar, faze florescer um lírio entre as pedras, para que enfeite o olhar de quem passar à margem do caminho. Porém, não me abandones! Unta o meu espírito com Tua Graça e diminui a carga. Torna-me leve para que possa voar, ainda que ao rés-do-chão, por entre as borboletas.".

– Publicado no Facebook, em 16/12/2014. Revisado pela autora, na mesma data, acatando a sugestão do analista.

Muito bonito este embrião literário, uma boa peça a ser lapidada, poetamiga Nina Isnardi! Gostei muito mesmo! Nunca é fácil trabalhar esta temática, porque é produto da inquietação autoral, o transbordar do intimismo. Aliás, para chegar a esta lavratura, haja apreensão e temores subjacentes... Angústias e sofrimento pessoal transpiram, desnudados. E o texto, o cochicho à busca do espiritual, produz a oração, que é uma forma de encontro com o Absoluto. No entanto, para corporificar a peça estética, é necessário racionalizar, capitalizando o emocional. Agora, só falta fazer a transpiração sobre o primeiro momento de criação. De pronto, peço revises os pronomes de tratamento e a flexão verbal respectiva, a fim de dar coerência ao discurso. Caso te agrade, podemos falar “in box”, em privado, sobre o processo definitivo de fixação do texto. Peço escusas, mas tu és talentosa e sei que te instigo à discussão. Se a tua cuca não fosse boa, ficaria quieto. Aliás, cortejar a fácil popularidade (e o consequente “tapinha nas costas”) é o que a maciça maioria dos leitores faz. Eu não! Porque para mim o que importa é assistir ao sucesso de meus confrades nos certames literários, o que (também) fixa a boa imagem da pessoa como escritor (a) e produz o principal: ávidos leitores, e cada vez mais exigentes do talento e estilo do autor escolhido.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013/14.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/5071733