O POEMA E O ENSAIO

Ao mesmo tempo em que agradeço a tua sempre bem-vinda interlocução, aproveito para informar sobre a espécie literária “Ensaio”. Trata-se de uma peça intelectiva em que predomina o detalhamento do tema em discussão e é necessariamente "prolixa". Não é como um poema, que é expressão sintética e muito mais palatável aos olhos e à cuca, especialmente para os poetas, que consomem, em regra, a metafórica sobremesa e o imediatismo da sugestão verbal. Enfim, no poema, o vácuo comprimido se preenche com idéias à solta. Não dentro desta vacuidade, mas, sim, acocorados em concílio tribal na cuca do poeta-autor ou na do poeta-leitor. Em suma, de somenos, do nada nasce o poema, retorcendo-se no cadinho fogoso e fugidio da criação. Na especificidade "ensaio", tudo tem de ser explicado "tim-tim por tim-tim". Naturalmente, há o esgar da filosofia a ilustrar a cientificidade. Afinal, este arde e se funde no "Banco da Memória", o repositório do conhecimento haurido. E mais. No ensaio, tanto quanto no poema, a tela do eu autoral tatua-se; ficam retratados os mecanismos da memória, segundo as possibilidades e talento do criador. Na peça, nem sempre prepondera o Belo e o agradável. Sempre o velho Freud e suas maquinações psicanalíticas atemporais tatuadas nos condenados ao pensar e o compulsivo dizer-se...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

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