Como nascem os aborrecimentos
Outro dia, lendo um artigo publicado em um jornal português, me fez lembrar a enorme dificuldade que os homens têm para separar as coisas, colocando-as em prateleiras diferentes, segundo sua importância. O artigo leva o título de “Desilusões” e, seu autor, procura mostrar os momentos da vida em que a pessoa se decepciona.
São mais de uma dezena de situações descritas, entre elas, desilusões profissionais, amorosas, políticas, de educação dos filhos, todas elas criadas pelo homem, que também poderá eliminá-las, uma vez que, quem faz pode desfazer.
O que chamou a atenção foi a condução das situações para um materialismo chocante, embrulhado em uma caixa de egoísmo e orgulho do ser humano. Para se ter uma ideia, cito três situações consideradas enormes desilusões:
1) Quando compramos um carro e, verificamos depois, que ele não passa dos 200 quilômetros por hora na estrada;
2) Quando o nosso “querido” clube é derrotado;
3) Quando se chega em casa para almoçar, e o prato não é do nosso agrado.
Parece incrível, mas o homem se preocupa com coisas tão pequenas, tão frágeis e desnecessárias, que ficamos pensando como será o mundo nos próximos séculos. Quantos homens se destroem pelas suas próprias faltas! Quantos são vítimas de seu orgulho e ambição! Quantas pessoas arruinadas por conduzir mal suas vidas, não sabendo ou não querendo limitar seus desejos.
Se todos aqueles que são atingidos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida, interrogasse friamente sua consciência; se remontasse progressivamente à fonte dos males que os afligem, viriam que o mais frequentemente poderia dizer: Se eu tivesse ou não tivesse feito tal coisa eu não estaria em tal situação.
A quem, pois, culpar de todas as suas aflições senão a si mesmo? O homem é, assim, num grande número de casos, o artífice dos seus próprios infortúnios; mas, ao invés de reconhecê-lo ele acha mais simples, menos humilhante para sua vaidade, acusar a sorte, a chance desfavorável ou sua má estrela, quando na verdade, a sua má estrela está na sua negligência.
Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências no princípio! Por fraqueza ou indiferença, deixaram se desenvolver neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade que secam os corações; depois, mais tarde, recolhendo o que semearam, se espantam e se afligem da sua falta de respeito e ingratidão.
Quantas dissensões e querelas funestas se teriam podido evitar com mais moderação e menos suscetibilidade! Quantas uniões infelizes porque são de interesse calculado ou de vaidade, com as quais o coração nada tem!
Mas a experiência, algumas vezes, vem um pouco tarde; quando a vida foi dissipada e perturbada, as forças desgastadas, e quando o mal não tem mais remédio, então, o homem se põe a dizer: Se no início da vida eu soubesse o que sei agora, quantas faltas e aflições teriam evitado; se fosse começar, eu faria tudo de outro modo; mas não há mais tempo. Eu perdi a minha vida.