Amanhecer só

Daí você amanhece com a sensação de que mil tornados arrastaram seu corpo, seus desejos, suas menores esperanças. E você entende que esvaziar a cartela de Diazepam não adiantou, que todas as palavras antes não adiantaram, que talvez nem tenha adiantado caminhar tanto para ter chegado à lugar algum. Você chega no limite de ver as pessoas que amam-no, de verdade, chorando e as que nunca amaram indo embora, desistindo fácil demais. Você não consegue arrancar da alma as cicatrizes e nem do peito a saudade, a culpa, os arrependimentos. Mas nem há outra cartela de Diazepam, nem há outro 'ontem' para que seja possível corrigir o 'hoje'. Não há bebida que suverta a sombra no coração, nem haverá um amanhã sequer se, definitivamente, o Amor-próprio não falar mais alto que a vontade de jogar tudo pro alto. Porque a Vida é assim, exatamente assim: morada do Bem e do Mal. Cabe a você decidir com qual dos dois quer passar as noites e com qual deles quer dividir os dias.

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 05/10/2014
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