Um trágica cômica

"...Eu venho pedir a ti ó Tartaruga que o totem estás a sustentar,dá-me tua certeza de um dia eu poder chegar a ver-te nas asas da Águia, na forca do Urso,em todas as coisas criadas por Ti..."

A alma humana nada mais é que uma sucessão de resquícios do sentir encontrados pelo caminho da existência.

E assim em fragmentos aos poucos se constitui algo que a ciência chamaria de Homem, a fé de criatura e o Homem de semelhante. Construindo e carregando totens ele faz de si um terreno intocável, enquanto tenta incansavelmente dissecar o mundo a sua volta, esquece-se que o maior de todos os mistérios existe tão somente onde ele evita olhar - dentro de si mesmo.

É encontrando símbolos que o justificam, que se assemelham a ele, que o bicho homem encontra em cada respirar algo que o faça existir, que o complete para além daquilo que ele conhece de si mesmo.

Símbolos!!!! São para nós seres dotados de inteligência, ao qual se acredita os únicos no planeta, uma fonte de certeza que existimos, antes e em tudo que há, em tudo que foi e será, que o mesmo existe em nós, com mais ou menos intensidade o que nos diferencia ao mesmo tempo que assemelha-nos uns aos outros.

Colecionamos ao longo da vida cacos, pedaços de outras vidas, lembranças dolorosas, sentimentos alheios escusos e intocáveis que se petrificam, pesam as costas que o suportam enquanto os pés cada vez mais lentamente o arrastam. Como a TARTARUGA que carrega o peso de sua morada, nos escondemos também em nossos cascos ao menor sinal de perigo.

Perigo este que nos leva ansiar pela força do urso que a tudo destrói, do menor ao mais improvável obstáculo, o fato é que na maioria das vezes a destruição desse obstáculo condena a destruição do ser, do que se é para tornar-se o que se deseja ser, e quando o frio da dúvida é a causadora da dor desejamos desesperadamente a manta protetora que acaricia a pele do urso.

Ressurgir das cinzas como a fênix pra quem não possui o olhar longínquo e penetrante da águia pode ser somente mais um dos cacos incorporados ao casco da tartaruga. Somente mais um peso que a fará caminhar mais lentamente, enquanto ao olhar para cima deseja as assas da águia, que a fará voar livre obedecendo somente ao desejo e ao instinto de ser e pertencer aquilo que é belo e puro.

Porém o medo do gavião, da fome, do incerto, da falta de terra firme e solo fértil para poder descansar o peso dos dias, a impede de voltar, não a voar como a águia, mas de nadar livre e feliz como antes, antes de sair e conhecer a terra firme e dura.

"...Eleva minh. alma, me faz tão perfeito, e leva a saber que estás dentro de mim..."

O Homem-Totem transcende os limites do real tão somente porque ainda insiste em dignificar o mundo a sua volta ao passo que se esquece que é parte viva de tudo isso.

Que sejam quebrados os cascos, que sejam libertas as asas e a vontade de viver e sonhar, que se tenham forças para acreditar e motivos para caminhar, pois é a insistência em viver o contrário que petrifica o sentimento e destrói o homem!

LC Russo
Enviado por LC Russo em 02/10/2014
Código do texto: T4985209
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