ESPECIAL ESPÉCIME DA ESPÉCIE
Ao escolherem um local neutro para o encontro, revelaram suas naturezas sensíveis.
Tudo fora conduzindo para o enlace. Estava conectado na mesma freqüência, em idêntica sintonia, por isso o deleite em cada palavra, um ato amoroso em cada encaixe de frases. Estava tão pronta que o ar que respirava regia os nascentes pensamentos que orquestravam do microcosmo cardíaco, imantando ainda mais o ar. A palavra copulava com a palavra seguinte, que, obediente seguia... Eram as frases, harmoniosos vagões em paralelas que se construíam sob a regência de quatro mãos. Tudo conspirava, embora se mantivessem praticamente mudos. Telepatia de visceral empatia, de um desejo colossal de encaixes de blocos contextualizando pontes...
Ah, o desejo arquiteto, engenheiro, cientista, curandeiro, crente fiel... Paisagista de Merlins e Barnards para assistirem as oscilações que bramem, que permitem sentir a valsa da vida, e o tango.
Maravilhoso habitar no clímax sem escafandro, na vertiginosa queda sem asas... Do paraíso da presença ao inferno de um misterioso abismo de uma distância que nos individualiza... O peito massacrado, macerado reconforta-se com os odores, as visões, quase psicóticas, das lembranças. Desejos desse porte tem laços de sangue, em primeiro grau, com a loucura!
Ambos tinham conhecimento das espécies, e os constantes contatos com a natureza fizeram com que apreendessem como principiavam as manifestações do mais puro afeto, do sexo.
Sabiam que certos detalhes como roupas de pantaneiro, perua, rendinhas, e frufrus não revelam o macho ou a fêmea que pode ou não existir no indivíduo.Há pessoas de natureza sem sal, indiferentes ao toques, aos carinhos. Se a pele da alma não vestir o homem, de que adianta o linho, a seda? A delicadeza é o verdadeiro tecido que deveríamos manter na superfície de nossa pele. Afeto também se aprende! Infelizmente há os analfabetos de ternuras, que nem no berço das ruas aprendem a ler sobre as cordialidades. E essa sensibilidade é, em muitos momentos, nossa verdadeira e crucial pele social... O conjunto de atitudes pode reforçar essa textura das pessoas, promovendo o desnudar do outro, antes que ele se desnude.
Quando somos especiais espécimes dessa espécie a essência da adolescência não nos abandona, e eles confirmavam isso, pois embora andasse distante de seus corpos, já maduros, sentiam-se vibrantes e primaveris como no auge de suas juventudes. Era visível para qualquer um que soubesse observar. Havia algo de eletrizante, de eufórico no brilho dos corpos, no olhar!
Sabiam-se prontos para um querer diferenciado, e amoroso. Pressentiam que a continuidade ocorreria em seus corpos imantados pelos contatos, pelas trocas feitas de atos generosos, sublimes, sem cobranças... Havia no ar aquela certeza que anima a libido e enfraquece as censuras. Não iriam satisfazer somente o corpo por alguns momentos, mas imprimir em suas lembranças algo mais significativo, digno de memória.
Esses especiais espécimes da espécie, quando desejam (de um diferenciado desejo), amam. E esse amor inesgotável e inesquecível, enquanto aceso pelas mágicas mãos cúmplices de invisível lume , gozam cada gota de luminosidade que orvalha onde somos entendimento de pequenina e sensível criatura.
Por isso ambos apreciavam as coisas simples, e nessas simplicidades deleitavam o bom vinho da colônia, a taça cristalina de vidro. Pouco importava a existência de outras cousas, ambos eram sensíveis e brindavam, não somente com os lábios esse instante de tantos encontros que tudo transforma em outras formas não adivinhadas, mas que se move como as mãos inspiradas ... Que ao transpirar transporta suores e ceras de Ícaro... E nesse abandono especiais espécimes aproximam-se dos deuses.