que respira, que toca ...
Estava a fazer hoje, algo que nunca mais o fiz, talvez por falta de vontade, disciplina, ou mesmo por não ser de minha natureza acordar num lugar arrumadinho; mas quando não pude suportar a falta de espaço, comecei a organizar meus livros velhos;
e aos poucos me peguei organizando mais que isso.
li num pequeno pedaço de papel rasgado no chão:
"...mesmo assim , agradeço por me dar a chance
de sempre se sentir assim. Porque
lembrar de sua imagem não o é realmente...
mas é sempre estar ao lado de alguém que já foi você.
porque és uma memória , que respira , que toca...
que sopra minhas brasas e me aquece nos mais frios invernos...
você se foi, mais parte de mim é você e parte de você sou eu."
o pequeno fragmento de papel amarelado que saiu não sei de onde me revelou algo esquecido... uma parte de mim que não pode ser guardada numa estante.
Não posso concluir mais nada, se este já o fez tão bem; sua destreza na escrita revela-me
uma invejável forma de representar o mundo; porque palavras, não palavras quaisquer, mais essas palavras são a extensão dos sentidos que proporcionaram ao escritor, o que seus sensores físicos não puderam alcançar; há de fato, um mundo particular e rico, construído dentro de cada um. Pois esse era um, entre muitos e ao mesmo tempo, único em sua forma.
Talvez por isso não canso mais de ler coisas como essa. Porque talvez lendo-as, não apenas estou a recriar em mim, formas de representação mais autenticas e agradáveis de meus próprios sonhos, mais também alcançar o sublime momento em que não recusarei mais minhas próprias oportunidades por falta de visão; como antes a fazer quando limpava meu quarto casa e jogava aqueles velhos livros de poesia na lareira, não imaginando que podiam me aquecer de meus gélidos pensamentos rotineiros. que agora estavam em ordem. não pelo fato de que romantismo seja essencial para se viver, mas pelo que me digo a mim mesmo, em forma de capacidade de pensar e escrever, nesse belo mundo em que uma parte de meus pensamentos podem ir além do que minha vida terrena ou minha bagunça possa determinar.
Porque és uma memória, que respira , que toca...