CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO

Amadinha! Agradeço a interação psicológica que temos como escribas, e que propiciou o nascimento do intertexto. Porém o teu escrito não me parece pronto: está confuso. Inicias um assunto e não o completas, talvez pela compulsão de quereres registrar a impressão sensória, cuidando para não perder a ideia. Contrarias, com esta publicação – em cima do ato de criação –, o que te venho propondo há muitos anos, e que revelo em vários dos meus textos: depois do aparente despejar da intuição, deixa o texto de "molho", descansando. Mais tarde, ama-o, elogia e até briga com ele, tira-lhe a roupa, admira sua forma e formato, limpa a sua “moleira”, ajeita-lhe os cabelos, porque o bebê já terá crescido um pouquinho e vai necessitar de um cuidadoso banho para eliminar sujidades ou excessos de gordurinhas. E o reveste minuciosa e cuidadosamente. Coloca-lhe um pouco de talco perfumado na bundinha, e não sejas tão maternal: deixa-o dormir no berço a noite inteira. Não faças barulho, nem o acordes, que ele vai chorar e reclamar. É mais ou menos isto o que deves fazer com o texto-nenê: acalentá-lo com canções de ninar. A este conjunto de cuidados se pode chamar TRANSPIRAÇÃO, e é esta ação criteriosa que vai definir forma e formato para o poema ou a prosa artística. Os de fora, que o verem assim, não vão elogiar os cuidados com ele – os quais não aparecem à vista superficial – mas vão logo tecer loas, louvores ao resultado destes cuidados. Porque poucos chegam aos detalhes, e, sim, somente quem é padrinho – como eu – que ama o bebê até mesmo antes da concepção.

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2014/16.

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