JESUS PAROU |
Jesus havia completado Seu ministério na Galileia. Ele avança rumo à antiga cidade de Jerusalém para o último ato do drama. Ao passar por Jericó, a 25 quilômetros de distância, Sua jornada é subitamente interrompida pelos gritos do cego Bartimeu, assentado à margem do caminho. Sabendo que a multidão que passa é liderada por Jesus, ele começa a fazer um grande alvoroço. "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim" (v. 47), ele grita. Acima do barulho da multidão, Jesus ouve o pedido de socorro.
A ação verbal aqui é de poderosa eloquência: "Parou Jesus" (v. 49). Mestre na arte de parar em tributo à pessoa em necessidade, Ele interrompe a jornada em completa atenção a esse cego, marginalizado dentro do sistema social e religioso. De acordo com o dogma da retribuição, esses desafortunados estavam pagando os pecados de seus pais ou os próprios pecados. O exercício do sacerdócio fora proibido aos cegos e deformados (Lv 21:17-21), mas aquilo que era algo específico, apenas em relação ao sacerdócio, foi generalizado. Entre os fariseus, havia a crença de que eles não eram obrigados a ter piedade dessas pessoas. Alguns chegavam a se orgulhar de atirar-lhes pedras. No caso dos essênios, uma seita do judaísmo, os cegos e portadores de deficiências físicas eram excluídos de suas comunidades. Não eram considerados dignos de ajuntar-se à guerra escatológica entre os eleitos contra as hostes de Belial e muito menos partilhar do banquete messiânico.
Aqui Jesus Se eleva acima das regras religiosas inventadas para segregar seres humanos. Com esse ato, Jesus está dizendo: "Você conta. Você tem valor." Extraordinário! Com tempo limitado para Sua estupenda missão, nunca O encontramos apressado. Em nenhuma circunstância está ocupado demais. Nunca afetado ou "graduado", que não pudesse parar para atender a quem O buscasse. Em Jesus, não encontramos a frase comum hoje: "Falo com você depois."
"Chamai-o", é Sua ordem. A multidão que fora incapaz de fazer o cego calar-se, agora passa a encorajá-lo: "Tem bom ânimo; [...] Ele te chama" (v. 49). Esse é Seu último milagre relatado em Marcos. A sombra da cruz já se projeta sobre Ele, a caminho de Jerusalém, onde a traição, o abandono e as últimas gotas do cálice O aguardam. Ainda assim, Ele toma tempo para esse pobre fragmento humano. Que estímulo extraordinário para buscá-Lo!
Que grande estímulo para atender os que nos buscam em necessidade!
Em Marcos 10:51 o texto continua com uma pergunta: Que queres que Eu te faça?
Essa é uma pergunta muito estranha para ser feita a um cego que clama por misericórdia. Você pensaria que Jesus já sabe o que ele deseja. Além da desabilidade física, Bartimeu carregava o pesado fardo do estigma religioso. Vagava a esmo em Jericó, imerso em trevas. Assim, para ele, a pergunta de Jesus parece soar como um novo golpe em uma ferida antiga. "Será que esse Jesus está brincando ou sendo sarcástico?", poderia ter pensado Bartimeu. Contudo, ele se eleva acima de qualquer melindre e responde seguro, como se realmente cresse que Jesus não soubesse: "Mestre, que eu torne a ver." Jesus lhe diz: "Vai, a tua fé te salvou" (v. 52). E logo seguiu a Jesus pelo caminho.
Segundo um especialista, a recuperação da visão depois do prolongado convívio com as trevas representa uma experiência perturbadora. A pessoa sente dor de cabeça e no estômago, tonteiras e enjoos, além do incômodo da luz. Quem tem essa experiência é quase compelido a pensar que ver não é o que imaginava. Pense agora em Bartimeu. Apertado no meio da multidão, tenta orientar-se com o velho cajado, enquanto a outra mão busca proteger os olhos da luz que o fere. Na hora de voltar para casa, ele não sabe o caminho. Daquele momento em diante, o que iria fazer? Agora ele deve trabalhar, entrar na competição da vida, mas ele não tem nenhuma profissão, não sabe fazer nada. Ainda depende das pessoas, que agora já não o querem ajudar. Em uma palavra, Bartimeu não está bem. Qual é seu problema? Ele pode ver! Ele se sentia seguro nas trevas, mas a visão o desorienta.
Você percebe? A visão tem um preço. Podemos, afinal, entender que a pergunta de Jesus não é tão estranha, mas é difícil de ser respondida. Muitos preferem as trevas, porque se sentem seguros e confortáveis na escuridão. Não ver, às vezes, é conveniente. "Que queres que Eu te faça?", Ele nos pergunta, porque a visão não é imposta. Jesus nos desafia a ver a realidade sobre Deus e sobre nós mesmos, enxergando as distorções que devem ser corrigidas em nossa vida. Você pode responder: "Obrigado, Senhor! Não preciso de nada. Eu não enxergo, mas está tudo bem." Ou você pode dizer como Bartimeu: "Senhor, eu quero ver. Abre-me os olhos para que eu veja as coisas que tenho evitado por muito tempo. Mestre, eu quero ver, pois só assim posso ser Teu discípulo e contemplar a Ti, que és a luz do mundo. Abre-me os olhos, Senhor!"
Conceição do Mato Dentro-MG 05:50
Fonte: CPB A.Rodor