EM NOME DA PALAVRA E DO SENTIR

Antigo e querido amigo Sued Macedo! Menos, menos, peço... Nem sei o que dizer para agradecer tuas reiteradas interlocuções. Escrevo por compulsão há mais de 40 anos, e, prazerosamente, degusto os resultados, a rigor, desde que aprendi a ler mais do que simplesmente os livros didáticos. Tenho, realmente, certa facilidade em articular as palavrinhas. Sinto-me feliz na companhia de meus alter egos, que são filhotes do mistério. Eles – os intrusos que hospedo – me oferecem registros razoáveis e de fácil aproveitamento nos textos. Porém, o que me faz escritor não é o "fazer criando", mas a satisfação que me dão as diversas "curtições" e os comentários com que o polo-leitor me brinda, nos sítios da net. É tão boa a sensação de ser útil e de prover a alimentação psíquica do ego, que venho perdendo o interesse na publicação impressa, devido aos altos custos ofertados pelos editores e o desinteresse deles para com a Poesia, que é o gênero literário de minha predileção. Também o desleixo dos livreiros para com os livros de autores ainda pouco conhecidos, no tocante à distribuição e vendas em loja. Notaste que nunca há livros de Poesia nas gôndolas e espaços nobres, nas livrarias? Estão sempre escondidos, em segundo plano. Quanto ao perfil de minha obra, percebo que mais pode ser feito para um efetivo incentivo à leitura, e o trabalho na Academia Sul-Brasileira de Letras tem-me desafiado, bem como aos parceiros de caminhada associativa, porém são tarefas reconfortantes. Agradeço-te, penhoradamente. Também sou teu admirador inconteste. Sabes passar o que pensas, e estás ativo, aos 80 anos. E isto é incomum... Que o Absoluto te guarde sempre! Somos, ambos, do grupo de resistência em nome palavra e do sentir. Resistir sempre, e, antiteticamente, oferecer os assuntos à reflexão. Assim, teríamos um povo mais afeito à leitura. Esse é um convite que se poderia deixar ao público: curtir tudo o que tece loas à vida e ao humano ser. E dizer não à falta de ações para fazer o mundo melhor e mais justo para os necessitados de toda ordem.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/4903460