FRATERNO ANDEJAR

Agradeço o terno gesto de partilha, quanto à peça verbal. Fizeste com que o texto ganhasse pernas para andar mais longe. Vejo em teus poemas e prosas trazidos a público uma doçura pessoal para o desafio do enfrentamento da realidade, e que, por inúmeras vezes, me comove. Percebo-te tão entregue ao mundo do caos, que fica em mim a imagem do desterrado náufrago que nada tem que o possa salvar, a não ser os versos que não morrerão com ele. Essa denúncia incontida dos desesperados gritos do dolorido "EU", a ponto de quase excluir o leitor por POSSESSÃO do contexto vivido e criado. A intuitiva inquietação consome e prescinde daquele que chega para fruir a proposta contida no contextual. Neste, somente há lugar para o criador que se auto-confidencia, derramando-se. Pressinto, então, que necessitas de Confraternidade para poderes viver esta quadra turbulenta. Desejo saibas que estou contigo muito além do Ego – em êxtase. Não só pelo escrito, mas pela subjacente vida que podes redistribuir para além: o apelo no sentido de continuar na senda rumo à reconstrução pessoal. Quem disse que a Poesia não é a tábua que passa no mar, frente ao náufrago?

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

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