A AUSÊNCIA NO OUTRO

Não esqueças de que a vida corre célere, e a Poesia não deve ser o relato vivo da realidade, e sim a proposta de transfiguração do real para que o seu autor possa encontrar a felicidade não realizada no mundo dos fatos. Nesta musa dos nortes perdidos, a fantasia é a verdade materializada. Pra que chorar o que passou..., diz a canção popular. Olha para o horizonte e toca pra frente, amadinha, porque és muito importante para os teus afetos, e eu sou um deles. Dos que te admiram independente de distâncias físicas e falta do abraço amoroso. Assim, a libido se enfia nos espaços não visíveis, mesmo que se não queira. Logo estaremos juntos para dar risada, beber uns vinhos à memória do que já se foi, curtir a invernia à luz da lareira e saudar o amor diluído nos ladinos e escafedidos afetos. Juntos para nos entregarmos ao vezo inútil de abrir o doce colo maternal para as incompreendidas ausências. Por ora, vai o meu coração confrangido e desejoso de que possas sublimar a perda na voz do vento. Nestes períodos, os enlouquecidos neurônios provocam a momentânea sensação de que a vida não tem sentido, então, oferece o teu rosto ao sol tímido da manhã e procura descobrir que sempre há um novo dia de esperanças. Porque sem o amar dentro da gente tudo é tempestade nos móveis da casa de Deus.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

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