Sem destinatário
Príncipes não existem, são ideais alçados muito acima daquilo que nossos próprios sonhos podem suportar. Lindos 'cavaleiros de aço', dos poemas de outrora, hoje me parecem monstros descaracterizados. Nem jazem neles alma ou coração. Aquele 'Amor' que eu pensei ter encontrado, enfim, numa esquina, mora agora, tão somente, em meus pesadelos. A paixão que começou numa praça, morreu envenenada pelo ciúmes ou por tédio. O olhar que me laçou num passado, nesse instante, ofusca meu presente, desmerece meu futuro. Mancharam-se desejos e grinaldas, as fotos e as cartas. Tudo viveu de mentiras e não sobreviveu à nenhuma delas. Então, o que eu queria, se Deus descesse dos Céus e me concedesse uma benção apenas, seria o dom do 'esquecimento'. A ópera da memória perdida no tempo para que o próprio tempo não fosse capaz de consumir mais um dia sequer da minha vida com tanta culpa e pavor. Quero e preciso esquecer faces, beijos e promessas. Todos evaporados no vento como as cinzas d'uma urna fúnebre. Dias perdidos ou ganhos? Não importam mais. Nada importa mais. A única verdade é: Eu não quero carregar um passado nas minhas malas e pagar pelo peso dele, eu prefiro comprar estrelas para enfeitar meu céu, deitar sob ele e ter certeza que, de todas as coisas que não mais lembrarei, algumas não foram em vão! E eu entenderei, enfim, que o Amor é indiferente às coisas materiais, que Ele é energia inesgotável e será para sempre!
- Bia Figueiredo -