A UM HOMEM DE OUTRO ESPAÇO
NO INÍCIO DA MADRUGADA DE 29 DE MAIO DE 2014
Não sei nem jamais saberei apagar 25 anos de minha vida. Ainda que eu, desde sempre condenada a nada compreender, sou obrigada a reconhecer, sempre, o indelével em mim de tudo, do vivido e do não vivido, das palavras e dos silêncios... enfim, das marcas todas. Estou também fadada a sempre perdoar, a sempre pedir aos Poderes do Alto por teu renascimento, por tua paz. Inacreditavelmente, agora o compreendo, és inocente dos estragos que causas: tu, que te julgas o sempre abandonado, não tens a menor noção de quanto abandonaste. Inacreditavelmente, não a tens, a tal noção.
Por reciprocidades quaisquer não espero mais, nada me cabe esperar. O segredo do teu esquecimento pleno ou de presença, ainda, de algum afeto em ti por mim, só te pertence a ti, sempre só a ti te pertencerá, porque assim decidiste desde sempre, porque a despeito de tudo, sempre foste um ser livre para escolher.
Eu sou livre apenas para aceitar, resignadamente, os destinos que me couberam. Os destinos que me couberam. Os destinos que me couberam... A única liberdade que me restou. A única. Por isso que escrevo vês que nunca poderei partir completamente. Seja como for é preciso que, a partir de agora, eu deixe só marcas mínimas, exteriores, do meu ainda ficar. Marcas mínimas do meu ainda ficar. Objetivamente falando porque dentro... bem, dentro permaneço aquela que sou, embora não me caiba mais proferir, escrever, em lugar nenhum, do que permanece, ainda, dentro de mim. Não me cabe mais.
Que o Deus te proteja, hoje e sempre, Amém.
ESCRITA NA NOITE DE 28 DE MAIO DE 2014