O SIGNIFICADO DO NOME TEOSOFIA

O SIGNIFICADO DO NOME TEOSOFIA

Ps.: Não conheço o pesquisador, mas o trabalho é muito bom

e merece ser lido com calma, por quem goste do assunto:

"Acaso alguém conheça o autor, ou se o mesmo se sentir prejudicado,

por favor me avise que retiro o texto"

Que foi extraído em sua maior parte de "A Chave da Teosofia"

de Helena Petrovna Fadeef von Blavatsky.

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PESQUISADOR: Frequentemente, a teosofia e as suas doutrinas

são descritas como uma nova religião. Isso é verdade?

TEOSOFISTA: Não. Teosofia é conhecimento divino ou ciência divina.

PESQ.: Qual é o verdadeiro significado do termo?

TEOS.: Sabedoria Divina. “Theosophia” significa sabedoria dos

deuses, assim como “Teogonia” significa genealogia dos deuses.

A palavra “theos” significa um deus, em grego, um dos seres

divinos, e certamente não significa “Deus” no sentido que se dá

atualmente ao termo. Portanto, ela não é “Sabedoria de Deus”,

como alguns traduzem o termo, mas aquela Sabedoria Divina que

pertence aos deuses. O termo existe há muitos milhares de anos.

PESQ.: Qual é a origem do nome?

TEOS.: Ele vem dos filósofos de Alexandria, os chamados amantes

da verdade, Filaleteus, de “Fil” (amar) e “Aleteia” (verdade). O nome

“teosofia” data do século três da nossa era, e começou a ser usado

por Amônio Saccas e seus discípulos [1], que criaram o sistema

Teosófico Eclético.

PESQ.: Qual era o objetivo deste sistema?

TEOS.: Em primeiro lugar, transmitir algumas grandes verdades

morais a seus discípulos, e a todos os que eram “amantes da

verdade”. Disso surgiu o lema adotado pela Sociedade Teosófica:

“Não há religião mais elevada que a verdade”.[2]

O principal objetivo dos fundadores da Escola Teosófica Eclética

era um dos objetivos da sua sucessora moderna, a Sociedade

Teosófica, isto é, reconciliar todas as religiões, seitas e nações

sob um sistema comum de ética, com base em verdades eternas.

PESQ.: Que meios você tem de mostrar que isto não é um sonho

impossível, e que todas as religiões do mundo estão baseadas

em uma única e mesma verdade?

TEOS.: O estudo e a análise comparada das religiões. A “Religião

da Sabedoria” era uma só, nos tempos antigos. A unidade da

filosofia religiosa primitiva está comprovada pela identidade das

doutrinas ensinadas pelos Iniciados nos MISTÉRIOS, uma prática

que, naqueles tempos, era adotada universalmente. “Todas as

velhas formas de adoração indicam a existência de uma só

Teosofia anterior a elas. A chave que abre uma deve abrir todas;

caso contrário não poderá ser a chave correta.”

(“Eclectic Philosophy”)

O PROGRAMA DE AÇÃO DA SOCIEDADE TEOSÓFICA

PESQ.: Na época de Amônio, havia várias grandes religiões antigas,

e as seitas no Egito e na Palestina eram numerosas, sem pensar

em outras regiões. De que modo ele poderia conciliá-las?

TEOS.: Fazendo o que estamos tentando outra vez agora.

Os neoplatônicos eram numerosos, e pertenciam a várias

filosofias religiosas. [3] O mesmo acontece com os nossos

teosofistas. Naquele tempo, o judeu Aristóbulo dizia que a

ética de Aristóteles representava os ensinamentos esotéricos

da Lei de Moisés; Filo Judeu se esforçava por reconciliar o

Pentateuco com a filosofia pitagórica e platônica; e Josefo

comprovava que os essênios de Carmelo eram simplesmente

os copistas e seguidores dos terapeutas egípcios

(os curadores). O mesmo ocorre em nossos dias.

Nós podemos mostrar a origem e a trajetória de cada grupo

cristão, incluindo a menor das suas seitas. As seitas são os

ramos menores nascidos dos galhos maiores da árvore;

mas ramos e galhos surgem do mesmo tronco:

a RELIGIÃO DA SABEDORIA. A meta de Amônio era provar

isso. Ele se esforçava por induzir gentios e cristãos, judeus

e idólatras, a deixar de lado suas disputas e brigas, lembrando

apenas que todos possuíam a mesma verdade sob diferentes

vestimentas, e eram todos filhos de uma mesma mãe.

[4] Esta é também a meta da teosofia.

PESQ.: Com base em que autoridades você faz estas afirmações

sobre os antigos teosofistas de Alexandria?

TEOS.: Um número quase incalculável de escritores bem conhecidos.

Mosheim, um deles, diz o seguinte:

“Amônio ensinava que a religião das multidões avançava lado a lado

com a filosofia, e compartilhava com ela o destino de ser corrompida

e obscurecida por meras vaidades, mentiras e superstições humanas;

que a religião deveria ser, portanto, trazida de volta para a sua

pureza original, expulsando dela o lixo e expondo-a com base em

princípios filosóficos; e que Cristo tinha como objetivo restabelecer

e restaurar na sua integridade primitiva a sabedoria dos antigos;

colocar certos limites à influência dominante da superstição; e, em

parte, corrigir, em parte eliminar, os vários erros que haviam

aparecido nas diferentes religiões populares.”

Isto é precisamente o que os teosofistas modernos dizem.

A única diferença é que o grande filaleteu era ajudado e apoiado,

no programa de ação que ele seguia, por dois padres da igreja −

Clemente e Atenágoras − e por todos os rabinos instruídos da

sinagoga, da Academia e dos bosques, e ensinava uma doutrina

comum a todos; enquanto que nós, que seguimos a mesma linha

de ação, não recebemos reconhecimento, mas, ao contrário,

somos alvos de insultos e perseguição. Assim, podemos ver

que 1500 anos atrás as pessoas eram mais tolerantes do que

neste século iluminado.

PESQ.: Amônio era encorajado e apoiado pela igreja porque,

apesar das suas heresias, ele ensinava cristianismo e era

um cristão?

TEOS.: Não, de modo algum. Ele nasceu como cristão, mas nunca

aceitou o cristianismo do igreja. O mesmo escritor afirmou, sobre

Amônio:

“Ele teve apenas que propor as suas instruções de acordo com

os antigos pilares de Hermes, que Platão e Pitágoras conheciam

antes dele, e com base nos quais eles constituíram suas filosofias.

Encontrando a mesma ideia no prólogo do evangelho segundo

São João, Amônio naturalmente supôs que o propósito de Jesus

era restaurar aquela grande doutrina de sabedoria em sua

integridade primitiva. As narrativas da Bíblia e as histórias dos

deuses eram vistas por Amônio como alegorias ilustrativas da

verdade, ou então fábulas a serem rejeitadas.” Além disso, como

afirma a Edinburgh Encyclopaedia, “ele reconhecia que Jesus era

um excelente homem, e “amigo de Deus”, mas alegava que ele não

pretendia abolir inteiramente a adoração de demônios (deuses),

e que sua única intenção era purificar a religião antiga.”

A RELIGIÃO DA SABEDORIA, ESOTÉRICA EM TODAS AS ERAS

PESQ.: Se Amônio nunca escreveu nada, como podemos ter

certeza de que estes eram os seus ensinamentos?

TEOS.: Tampouco Buddha, Pitágoras, Confúcio, Orfeu, Sócrates,

ou mesmo Jesus, deixaram quaisquer escritos. No entanto, na

maior parte dos casos eles são personagens históricos, e os seus

ensinamentos sobreviveram. Os discípulos de Amônio (entre eles

Orígenes e Herênio) escreveram tratados e explicaram a sua ética.

Certamente estes tratados têm uma origem historicamente tão

comprovada quanto a origem dos escritos apostólicos, ou mais.

Além disso, os seus alunos − Orígenes, Plotino, Longinus

(conselheiro da famosa rainha Zenobia) − todos deixaram registros

volumosos sobre o Sistema Filaleteu; e isso pelo menos em seus

aspectos públicos, porque a escola estava dividida em ensinamentos

exotéricos e esotéricos.

PESQ.: Como os princípios esotéricos chegaram até os nossos

dias, já que, segundo você afirma, aquilo que é propriamente

chamado RELIGIÃO DA SABEDORIA era esotérico?

TEOS.: A RELIGIÃO DA SABEDORIA foi sempre a mesma, e como

ela é a última palavra em termos do máximo conhecimento humano

possível, ela foi, portanto, cuidadosamente preservada. Ela existe

desde longas eras anteriores aos teosofistas de Alexandria.

Ela chegou à era moderna, e irá durar até depois de qualquer outra

religião e filosofia.

PESQ.: Mas onde, e por quem ela foi preservada?

TEOS.: Entre os Iniciados de cada país. Entre os que se dedicam

profundamente à busca da verdade − seus discípulos. E naquelas

regiões do mundo onde tais assuntos sempre foram valorizados

e investigados: a Índia, a Ásia Central e a Pérsia.

PESQ.: Você pode dar algumas provas da existência deste esoterismo?

TEOS.: A melhor prova é o fato de que em todo culto religioso

− ou melhor, filosófico − da antiguidade havia um ensinamento

secreto, ou esotérico, e uma adoração exotérica (para o público

externo). Além disso, é bem conhecido o fato de que os MISTÉRIOS

dos antigos se dividiam em todos os países em MISTÉRIOS “maiores”

(secretos) e “menores” (públicos): por exemplo, nas celebradas

solenidades chamadas Eleusínia, na Grécia. Desde os hierofantes

da Samotrácia, no Egito, até os brâmanes iniciados da Índia,

passando pelos rabinos hebreus, mais recentes, todos preservaram

em segredo, por medo de profanação, as suas crenças que

dependiam de boa fé. Os rabinos judeus chamavam a sua série

secular de ensinamentos religiosos pelo nome de Mercavá (o corpo

externo), “o veículo”, ou a cobertura que contém a alma oculta −,

isto é, o conhecimento mais elevado e secreto. Nenhuma das nações

antigas jamais transmitiu às massas, através dos seus sacerdotes,

os seus verdadeiros segredos filosóficos. Transmitiram, publicamente,

apenas a casca externa. O budismo do norte tem o seu veículo

“maior” e o seu veículo “menor”, conhecidos como as escolas

Mahayana, esotérica, e Hinayana, exotérica. Você não pode

criticá-los por um tal segredo: seguramente você não pensaria

em alimentar um rebanho de ovelhas com elevadas dissertações

sobre botânica, ao invés de dar-lhes capim. Pitágoras chamava

a sua Gnose de “o conhecimento das coisas que são”, e preservou

aquele conhecimento apenas para os seus discípulos que haviam

feito votos solenes: para aqueles que podiam digerir um tal

alimento mental e sentir-se satisfeitos com ele. E ele exigia deles

o compromisso do segredo. Os alfabetos ocultos e cifras secretas

surgiram a partir dos antigos escritos hieráticos do Egito, cujo

segredo estava, nos tempos antigos, em poder apenas dos

hierogramatistas, os sacerdotes egípcios iniciados. Amônio Saccas,

segundo seus biógrafos, exigia um juramento dos seus discípulos

no sentido de que não divulgariam as suas doutrinas mais elevadas

exceto para aqueles que já haviam sido instruídos em níveis

preliminares de conhecimento, e que também deviam assumir um

compromisso solene. Finalmente, será que nós não encontramos

a mesma coisa no cristianismo primitivo, entre os gnósticos, e

mesmo nos ensinamentos de Cristo? “A vocês”, diz ele, “é dado

conhecer os mistérios do reino dos céus; mas para eles que estão

fora, todas estas coisas são dadas em parábolas” (Evangelho

segundo Marcos, 4: 11). “Os essênios da Judéia e de Carmelo

faziam distinções similares, dividindo os seus membros entre os

que eram neófitos, os que eram irmãos, e os que eram perfeitos,

ou iniciados” (“Eclectic Philosophy”). Há exemplos disso em cada

país.

PESQ.: É possível alcançar a “Sabedoria Secreta” apenas pelo estudo?

As enciclopédias definem Teosofia de modo muito semelhante à

definição do Dicionário Webster, isto é, como “um suposto contato

com Deus e espíritos superiores e a conseqüente obtenção de

conhecimento sobre-humano através de meios físicos e processos

químicos.” Isso é verdade?

TEOS.: Penso que não. E tampouco há qualquer lexicógrafo que

seja capaz de explicar, seja para si mesmo ou para outros, como

um poder sobre-humano poderia ser alcançado por meios físicos

ou processos químicos. Se o dicionário Webster tivesse dito

“através de processos metafísicos e alquímicos”, a definição estaria

aproximadamente correta. Assim como está, ela é absurda. Assim

como os modernos, os teosofistas antigos afirmavam que o infinito

não pode ser conhecido pelo finito − isto é, não pode ser percebido

pelo Eu finito − mas que a essência divina pode ser comunicada ao

Eu Espiritual superior em um estado de êxtase. Esta condição

dificilmente pode ser obtida, como ocorre no caso do hipnotismo,

por “meios físicos e químicos”.

PESQ.: Qual é a sua explicação para isso?

TEOS.: O verdadeiro êxtase foi definido por Plotino como “o fato de

a mente libertar-se da sua consciência finita, tornando-se una com

o infinito e identificando-se com ele”. Esta é a condição mais elevada,

diz o professor Wilder, mas não é uma condição que dure

permanentemente, e só é alcançada por um número extremamente

reduzido de indivíduos. O êxtase é, na realidade, idêntico ao estado

de consciência chamado de Samadhi na Índia. Este último é alcançado

pelos Iogues, que o tornam possível, fisicamente, através de uma

abstinência extremamente rigorosa de comida e bebida, e,

mentalmente, através de um esforço incessante para purificar e

elevar a mente. A meditação é uma oração silenciosa e sem palavras;

ou, como Platão afirmou, ela é “a ardente busca do divino por parte

da alma, não para pedir qualquer bem específico (como ocorre no

significado comum da palavra ‘oração’), mas pelo bem em si mesmo,

pelo Bem universal e Supremo” − do qual todos fazemos parte na

terra, e de cuja essência nós todos emergimos. Portanto, acrescenta

Platão, “permaneça em silêncio na presença dos seres divinos, até

que eles retirem as nuvens dos seus olhos e o capacitem para ver

a luz que é transmitida por eles, e não ver o que a você parece ser

bom, mas sim o que é intrinsecamente bom.” [5]

PESQ.: Então, ao contrário do que alguns afirmam, a teosofia não

é um sistema novo?

TEOS.: Só os ignorantes podem referir-se a ela deste modo. Ela é

tão velha quando o mundo, em seus ensinamentos e sua ética, se

não em nome; assim como é, também, o sistema mais amplo e mais

católico de todos.

PESQ.: Como pode ser, então, que a teosofia tenha permanecido

tão desconhecida entre as nações do Hemisfério Ocidental? Por que

ela tem sido como um livro fechado para as raças que são

consideradas como as mais cultas e avançadas?

TEOS.: Acreditamos que havia nações igualmente cultas em épocas

antigas, e que, sem dúvida, elas eram espiritualmente mais

“avançadas” do que nós. Mas há várias razões para esta ignorância

voluntária. Uma delas foi dada por São Paulo aos cultos cidadãos

atenienses − ; a perda, durante longos séculos, da verdadeira

compreensão espiritual, e até mesmo do interesse, devido a uma

devoção excessivamente grande das pessoas pelas coisas dos

sentidos, e por causa da sua longa escravidão à letra morta do

dogma e do ritualismo. Mas a razão mais forte disso está no fato

de que a verdadeira teosofia foi sempre mantida em segredo.

PESQ.: Você expôs provas de que este segredo existe; mas

qual é o real motivo dele?

TEOS.: As causas foram as seguintes. Em primeiro lugar, a

perversidade média da natureza humana, e o seu egoísmo,

sempre tendendo para a gratificação dos desejos pessoais,

em detrimento dos seus semelhantes, e mesmo dos mais

próximos. A tais pessoas nunca se poderia confiar segredos

divinos. Em segundo lugar, o fato de que não se pode confiar

em que tais pessoas irão evitar a profanação do conhecimento

sagrado e divino. Foi este segundo fator que levou à distorção

dos símbolos e das verdades mais sublimes, e à gradual

transformação de coisas espirituais em imagens antropomórficas,

concretas e grosseiras −; em outras palavras, ao rebaixamento

da ideia de divindade e à idolatria.

TEOSOFIA NÃO É BUDISMO

PESQ.: Vocês são frequentemente chamados de “budistas esotéricos”.

Todos vocês são, então, seguidores de Gautama Buddha?

TEOS.: Não somos, assim como nem todos os músicos são

seguidores de Wagner. Alguns são budistas; no entanto há muito

mais hindus e brâmanes do que budistas entre nós, e mais europeus

e norte-americanos que nasceram cristãos, do que budistas

convertidos. O erro surgiu a partir de uma compreensão equivocada

do real significado do título do excelente livro do sr. Sinnett,

“The Esoteric Buddhism” (“O Budismo Esotérico”), cuja última

palavra deveria ter sido escrita com um só “d”, e não com dois “d”.

Deste modo, “Budhism” teria o significado que era a intenção

produzir; apenas “Sabedor-ismo” (de Bodha, bodhi, “inteligência”,

“sabedoria”), ao invés de “Buddhism”, a filosofia religiosa de

Gautama Buddha. A teosofia, como já foi dito, é a RELIGIÃO DA

SABEDORIA.

PESQ.: Qual é a diferença entre o budismo entendido como a religião

fundada pelo príncipe de Kapilavastu, e o budismo como

“sabedor-ismo”, que você afirma ser sinônimo de Teosofia?

TEOS.: É a mesma diferença que existe entre os ensinamentos

secretos de Cristo, que são chamados de “mistérios do Reino dos

Céus”, e o ritualismo e a teologia dogmática das igrejas e das

seitas, que surgiram mais tarde. Buddha significa “o Iluminado”

por Bodha, ou compreensão, Sabedoria. Isso foi passado

integralmente para os ensinamentos esotéricos que Gautama

transmitiu apenas aos seus Arhats escolhidos.

PESQ.: Mas alguns Orientalistas afirmam que Buddha jamais ensinou

qualquer doutrina esotérica.

TEOS.: Da mesma forma eles poderiam afirmar que a Natureza já

não tem segredo algum para os cientistas. Provarei este ponto

mais adiante através da conversa de Buddha com seu discípulo

Ananda. Os ensinamentos esotéricos de Buddha eram

simplesmente o Gupta Vidya (conhecimento secreto) dos antigos

brâmanes, cuja chave os seus sucessores modernos, com poucas

exceções, perderam completamente. E este Vidya passou a ser o

que agora é conhecido como os ensinamentos internos da escola

Mahayana do Budismo do Norte. Aqueles que negam isso são

simplesmente ignorantes que pretendem ser Orientalistas.

Aconselho ler a obra Chinese Buddhism, do Rev. Mr. Edkins,

especialmente os capítulos sobre as escolas e os ensinamentos

exotéricos e esotéricos − e então comparar com os testemunhos

de todo o mundo antigo sobre o assunto.

PESQ.: Mas a ética da teosofia não é idêntica à ética ensinada

por Buddha?

TEOS.: Certamente, porque as duas éticas são a alma da Religião

da Sabedoria, e foram antigamente um patrimônio comum dos

iniciados de todas as nações. Mas Buddha foi o primeiro a

incorporar esta ética elevada em seus ensinamentos públicos,

e a fazer deles a base e a própria essência do seu sistema público.

Nisso se mostra uma imensa diferença entre o budismo exotérico

e qualquer outra religião. Porque enquanto nas outras religiões o

ritualismo e o dogma estão colocados em primeiro lugar e na

posição central, no budismo é a ética que sempre tem recebido

o maior destaque. Isto explica a semelhança , chegando quase a

uma identidade, entre a ética da teosofia e a ética da religião de

Buddha.

PESQ.: Há algum ponto importante de diferença?

TEOS: Uma grande diferença entre a teosofia e o budismo

exotérico é que este último, representado pela igreja do sul,

nega inteiramente (a) a existência de qualquer Divindade, e (b)

qualquer vida consciente no pós-morte, ou mesmo qualquer

individualidade autoconsciente que sobreviva no homem. Este,

pelo menos, é o ensinamento da seita tailandesa, considerada

hoje a forma mais pura de budismo exotérico. E isso é verdade,

se considerarmos apenas os ensinamentos públicos do Buddha.

Explicarei mais adiante a razão desta reticência da parte dele. Mas

as escolas da igreja budista do norte, estabelecidas nos países

para os quais os iniciados Arhats se retiraram após a morte do

Mestre, ensinam tudo o que agora é chamado de doutrinas

teosóficas, porque elas fazem parte do conhecimento dos iniciados

− o que comprova que a ortodoxia excessivamente zelosa do

budismo do sul sacrificou a verdade para beneficiar a letra morta.

Porém, mesmo em sua letra morta, este ensinamento é imensamente

maior e mais nobre, mais filosófico e mais científico, que o

ensinamento de qualquer outra igreja ou religião. No entanto,

teosofia não é budismo.

NOTAS:

[1] Também chamados de Analogistas. O Prof. Alex Wilder, em

seu texto “Eclectic Philosophy”, explica que eles eram chamados

assim porque interpretavam todas as lendas, narrativas, mitos e

mistérios sagrados por uma regra ou por um princípio da analogia

e da correspondência, de modo que fatos que eram narrados

como tendo ocorrido no mundo externo eram vistos como

descrições de operações e experiências da alma humana. Eles

eram chamados também de neoplatônicos. Embora a teosofia,

ou sistema Teosófico Eclético, seja geralmente atribuída ao século

três, ainda assim, se devemos dar crédito a Diógenes Laércio, a

sua origem é muito anterior, já que ele atribui o sistema a um

sacerdote egípcio, Pot-Amun, que viveu nos primeiros dias da

dinastia ptolomaica. O mesmo autor afirma que o nome é copta,

e significa alguém consagrado a Amun, o deus da sabedoria.

O termo “teosofia” é equivalente a Brahma-Vidya, “conhecimento

divino”.

[2] A Teosofia Eclética se dividia em três aspectos: (1) A crença

em uma essência infinita ou Divindade absoluta, incompreensível

e suprema, que é a raiz de toda a natureza e de tudo o que existe,

visível ou invisível. (2) A crença na natureza eterna e imortal do

homem, porque, sendo uma radiação da alma universal, tem sua

essência idêntica a ela. (3) A teurgia, o “trabalho divino”, ou a

produção de um trabalho dos deuses; a palavra combina theoi,

“deuses”, com ergein, “trabalho”. O termo é muito velho, mas,

como pertence ao vocabulário dos MISTÉRIOS, não era de uso

popular. Ele se refere a uma crença mística − comprovada na

prática por Adeptos Iniciados e sacerdotes − no sentido de que,

tornando-se tão puro quanto seres incorpóreos, isto é, retornando

à pureza prístina da sua própria natureza, o homem podia fazer

com que os deuses lhe transmitissem mistérios Divinos, e até

mesmo conseguir que eles se tornassem ocasionalmente visíveis,

seja subjetivamente, seja objetivamente. Esse foi o aspecto

transcendental daquilo que é hoje chamado de espiritismo; mas,

tendo sido distorcido e sofrido abusos pela população ignorante,

tinha que ser visto como necromancia, e foi, geralmente, proibido.

Uma versão distorcida da teurgia de Jâmblico existe ainda na magia

cerimonial de alguns cabalistas modernos. A teosofia moderna

evita e rejeita estas duas espécies de magia e “necromancia”,

porque são muito perigosas. A real teurgia divina requer uma

pureza e uma sacralidade de vida quase sobre-humanas; caso

contrário, degenera em mediunidade e magia negra.

Amônio Saccas era chamado de Teodidata − instruído pelos deuses

−; e seus discípulos imediatos, tais como Plotino e o seu seguidor

Porfírio, rejeitaram a teurgia no início, mas mais adiante se

reconciliaram com ela através de Jâmblico. Um livro sobre teurgia

foi escrito por Jâmblico e intitulado “De Mysteriis”. O livro foi

atribuído ao próprio mestre de Jâmblico, um famoso sacerdote

egípcio chamado Abammon. Amônio Saccas era filho de pais cristãos,

e, sentindo aversão desde a infância pelo cristianismo dogmático,

tornou-se um neoplatônico. Conta-se que Amônio, como Jacob

Boehme e outros grandes videntes e místicos, teve a sabedoria

divina revelada a ele em sonhos e visões. Daí o seu título de

Teodidata. Ele decidiu reconciliar todos os sistemas religiosos,

demonstrando a sua origem idêntica, para estabelecer um sistema

universal baseado na ética. Sua vida foi tão impecável e pura, o seu

conhecimento tão profundo e vasto, que vários Padres da igreja

eram seus discípulos secretos. Clemente de Alexandria fala dele com

grande admiração. Plotino, o “São João” de Amônio, também era um

homem universalmente respeitado e estimado, e tinha grande

conhecimento e integridade. Com trinta e nove anos de idade, ele

acompanhou o imperador romano Gordiano e seu exército ao

Oriente, para ser instruído pelos sábios da Báctria e da Índia.

Ele manteve uma Escola de Filosofia em Roma. Seu discípulo Porfírio,

cujo verdadeiro nome era Malek (um judeu helenizado), recolheu

todos os escritos do seu mestre. Porfírio foi, ele próprio, um grande

autor, e deu uma interpretação alegórica a algumas partes dos

escritos de Homero. O sistema de meditação dos Filaleteus

apontava para o êxtase, e era semelhante à prática indiana de Ioga.

O que se sabe da Escola Eclética vem de Orígenes, Longinus e

Plotino, os discípulos imediatos de Amônio.

(Veja “Eclectic Philosophy”, de A. Wilder.)

[3] Foi sob o governo de Filadelfo que o judaísmo se estabeleceu

em Alexandria, e logo em seguida os professores helênicos se

tornaram perigosos rivais do Colégio de Rabinos da Babilônia.

O autor de “Eclectic Philosophy” está muito correto ao destacar:

“naquele tempo, os sistemas budista, vedanta e zoroastrista

eram ensinados lado a lado com as filosofias da Grécia. Não era

nada extraordinário homens estudiosos pensarem que a guerra

de palavras deveria terminar, e considerarem possível produzir um

sistema harmônico a partir destes vários ensinamentos (.....).

Paneno, Atenágoras e Clemente foram amplamente instruídos

na filosofia platônica, e compreenderam a sua unidade essencial

com os sistemas orientais.

[4] Diz Mosheim, sobre Amônio: “Considerando que não só os

filósofos da Grécia, mas também todos os filósofos das diferentes

nações bárbaras estavam em perfeita unidade uns com os outros

em relação a cada ponto essencial, ele adotou como seu objetivo

expor os milhares de princípios de todas estas várias seitas, de

modo a mostrar que elas tinham surgido todas a partir da mesma

origem, e tendiam em direção a uma mesma meta.” Talvez quem

escreveu sobre Amônio na Edinburgh Encyclopaedia não saiba do

que está falando; mas esta pessoa está descrevendo também os

teosofistas modernos, as suas crenças e o seu trabalho, quando

afirma, falando do Teodidata: “Ele adotou as doutrinas que foram

recebidas no Egito (das quais as esotéricas eram da Índia) sobre

o Universo e a Divindade considerados como sendo um grande Todo;

e sobre a eternidade do mundo (.....); e estabeleceu um sistema de

disciplina moral que permitia às pessoas em geral viver de acordo

com as leis dos seus países e com os ditados da natureza, mas

exigiam dos sábios que elevassem suas mentes através da

contemplação.”

[5] O erudito autor de “The Eclectic Philosophy”, Professor Wilder,

membro da Sociedade Teosófica, descreve a “fotografia espiritual”

da seguinte maneira: “A alma é a câmara fotográfica na qual os

fatos e os eventos, futuros, passados e presentes, estão

igualmente fixados; e a mente se torna consciente deles. Além

do nosso limitado mundo cotidiano, tudo é um só dia, ou estado,

com o passado e o futuro incluídos no presente.” (.....) A morte

é o último êxtase na terra. Depois dela a alma está livre das

restrições do corpo, e a sua parte mais nobre é unida à natureza

superior e se torna participante da sabedoria e presciência dos

seres mais elevados.” A verdadeira teosofia é, para os místicos,

aquele estado de consciência que Apolônio de Tiana, segundo

relatos, descreveu assim: “Posso ver o presente e o futuro como

em um claro espelho. O sábio não necessita esperar pelos vapores

da terra e pela corrupção do ar para prever eventos. (.....)

Os theoi, ou deuses, veem o futuro; os homens comuns veem o

presente; os sábios veem aquilo que está por ocorrer.

” A “teosofia dos deuses”, sobre a qual ele fala, está bem descrita

na afirmativa “O reino dos céus está dentro de nós”.

Helena Petrovna Fadeef von Blavatsky e Pesquiosador
Enviado por Jacó Filho em 27/04/2014
Reeditado em 27/04/2014
Código do texto: T4784718
Classificação de conteúdo: seguro
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