A ALGUNS AMIGOS DA VIDA "REAL"
NA MANHÃ DE 19 DE ABRIL DE 2014
Perdoem-me pelas ausências de voz, palavras, presença; perdoem-me por não conseguir lhes estar sendo útil, como deveria e precisaria estar sendo, neste tempo de suas vidas, tempo marcado por tão fundos caminhos e muros de solidão...
Perdoem-me, que deixei-me exaurir porque, há muito tempo, não consigo ser-me útil também a mim, a mim, também tão necessitada de mim... também tão necessitada de mim...
Que o Senhor de Todo Poder nos ajude a ressuscitar de nós em nós... Que Ele nos ajude, a todos e a cada um. Amém.
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À noitinha, ainda do dia 19 de abril, sábado de aleluia
ninguém nunca se responsabilizou por nenhuma minha dor
mas todos me culparam e eu acreditei
desde o que renegou o próprio pai e me disse "não me olhe com esse ódio" mas não era ódio, era Dor
aquel'outro quando o filho morreu e eu disse que se ele não tivesse ficado comigo o filho não teria morrido e ele não teve uma palavra para me defender de mim e eu carreguei desde então com essa culpa que não é minha nem de ninguém... nem é minha...
e o amigo de tenra adolescência que fugiu do meu amor por anos e anos... que nunca disse que me amava e quando eu dei-me a outro desde a alma, perdeu-se de seu Deus
e o outro que me acusou de tê-lo assassinado com a palavra que eu jamais lhe disse
e a mulher que me acusa de eu ter-lhe roubado as plantas dos pés, eu que só agora a conheci
e ela, essa mulher do meu eterno cotidiano, a quem dei minha vida e que, em hora de confronto, não conseguiria levantar a voz em palavra alguma em minha defesa
e eu me escrevo estas coisas antes da hora da Ressurreição do Cristo
e eu me escrevo estas coisas para pedir-me um perdão desesperado pelas culpas que me jogaram no rosto
as culpas que não tenho,mas, acreditei, ah,acreditei e acredito
e peço perdão por ver todos desesperados e ermos de si mesmos
Ah,que miséria eu ter em mim um cristo soberbo e pretensioso por se crer assim culpado de tudo
SENHOR, PERDOA-ME TU, PERDOA-ME TU.
e como todos são completamente inocentes de todas e de cada uma das minhas dores...
mas, crucificar-me pela culpa de todas as minhas próprias dores também seria perfeitamente inútil.
(...)
eu aceitei as provas de todas as acusações e não contestei nenhuma
e nenhuma e nenhuma e nenhuma
e você vem e por acréscimo me diz que tudo é imaginação minha
Deus! Tudo minha imaginação, a imaginação de um cristo louco e torto e inútil
que precisa viver
porque sua morte não serviria para nada
nem para ressuscitar-se a si
nem a nenhum dos semimortos de sua vida.
(...)
Vive, criatura, vive.
Não importa que não compreendas nada.
Vive, ainda.
Não importa que não tenhas mais uma razão tua
só tua, para viver.
Vive, criatura.
O Deus prestes a ressuscitar... espera Nele... espera Nele... espera...
como não podes esperar nada de nenhum psiquiatra...
Crê que Ele vem, ainda, te resgatar de ti mesma...
Quem ler isso tudo leia e esqueça, como quem se esquece de um sonho desprazeroso. Eu tentarei fazer o mesmo.