M E U A M I G O O Á L C O O L
Nossa amizade começou quando eu tinha dez anos. Primeiro comecei a sorver os restos de bebidas deixados em festas em minha casa. Num segundo momento já não me bastava cheirar tomava o resto que ficava nos copos e não raramente os misturava e ficava por tempo bebericando.
O álcool fez-me sentir homem logo aos quinze anos, engravidei uma colega de classe e como macho quis que ela abortasse sempre seguindo os conselhos do meu fiel amigo. Ela não o fez e eu pela primeira vez culpava meu amigo inseparável de infância e nada fiz e nunca mais soube de seu paradeiro e nem o sexo da criança.
O álcool sempre me trazia alegria até eu encontrar o amor. Por alguns anos tudo era novo tudo era encanto até que um dia, se eu pudesse apagar aquele dia, eu o reencontrei e aí para acabar com tudo, desagregar a família, perder a noção de qualquer valor moral ou ético, foi como despencar em um precipício e aí não teve mais volta.
O álcool me fazia viver em mundo que era só meu onde a mentira era a minha realidade era o meu mundo e mentia tanto que cada vez mais acreditava nas minhas mentiras.
O álcool me fez perder-se nas ruas como andarilho, maltrapilho, não tinha tempo ruim, não raramente acordava urinado, fétido, mas não conseguia deixar meu verdadeiro amigo, afinal os que se diziam amigos sumiram e quando eu os via eles não me reconheciam, trocavam de lado na rua, passavam cabisbaixo, não os culpo.
E nessa vida permaneci, arrumei mais um amigo um vira latas com quem repartia os restos de comidas que ganhava ou recolhia de sacos de lixo, era meu anjo da guarda encarnado, acompanhava-me o tempo todo e zelava pelo meu sono na embriaguez. Os que eu tive e os com quem estive nem sabem, exceto meu fiel escudeiro, que o álcool me fez jazer em uma vala comum como indigente. Vim ao mundo perfeito, fadado ao sucesso em uma família tradicional, a vida me ofereceu muitas oportunidades eu não soube aproveitar e enveredei por caminhos que cada vez mais me desviaram do Pai.