PRELÚDIOS e APRENDIZAGENS

O que sabemos do outro?

Podemos elaborar incríveis fantasias ao imaginar o outro ser apenas observando os movimentos de seu corpo, do peito, da coluna, as formas com que flexiona, ergue ou relaxa seus membros, o modo de caminhar... As ondulações da voz contam um pouco de sua história, dos obstáculos, contornos e quedas... O jeito de mirar pode até restaurar afrescos, emprestando a luminosidade do novo na desgastada paisagem urbana. Em incontáveis casos, sabemos muito mais do outro por intermédio de seu próprio corpo, do que através de suas falas.

Por diversos motivos alguns seres encontram nesse redirecionamento outros fascínios da comunicação, encontrando na silenciosa leitura dos movimentos um renovado prazer pelas nuances, pelos tons e formas sutis com que esse ser vivo manifesta-se como existente aqui e agora. Que respira, transpira, sua, sofre, silenciosamente chora sua angústia ainda não nomeada...

Se não podemos ler detalhes das dores existenciais, pelo menos sabemos que podemos interagir de maneira mais pontual e direta, permitindo que nossa sensibilidade deixe crescer como uma planta, a ponte entre nossos abismos, nossas ilhas modestas.

Sinto quando tanspira a solidão, quando as lágrimas tímidas no suor encontram na catarse a branda forma das gotículas de carência, de dor. Saio de mim e contigo transpiro para escorrer, desaguar na vertigem das empatias, e morrer convulsivamente num ladrilho qualquer. Não te abraço porque és um estranho ao meu lado, no ônibus, no elevador, na estreita rua, nesse longo corredor.

Tudo são prelúdios de leituras, de aprendizagens sem um ponto final

Quando beijamos, e não falo do beijo dado, mas desse outro beijo amoroso que beija com a alma, que toca sem tocar, que acaricia com os olhos, com toda a luminosidade contida na alma. Dessa represa de pura energia que lambe a vida, que fareja tudo que se move, e o que silencia... Falo do beijo com diferente língua. Não dessa língua que conheces, mas de uma outra que nos apropria e desveste de antigas palavras, conceitos, idéias... Que mesmo sem ter uma forma exata, se apropria de todas , e remodela para modular, e tecer toda a nossa espiritualidade. Que nos transforma em seres empáticos. Nessa língua tão dinâmica, que transforma-se em dínamo se beijar, se eontrar a sintonia, a exata freqüência do que anseia ser entendimento.

Esse prelúdio é o subterrâneo lençol d'água que hidrata de sentido a nossa vida de vastas leituras, de inesgotáveis aventuras... De aprendizagens!

Meg Fonsant( 01/05/2007)