A Máfia do Mensalão

Secretaria Nacional de Justiça

Na Secretaria Nacional de Justiça (SNJ) são guardados arquivos de informações confidenciais de países, conta bancária de pessoas investigadas e documentos oriundos de acordos internacionais. O gestor desse cinturão de informações tem acesso a gabinetes de ministros de Estado como a responsabilidade sobre assuntos relacionados ao mandatário da nação brasileira.

Durante o período de três anos (2007/2010), Romeu Tuma Júnior, delegado da Polícia Federal, comandou a sofisticada teia de informações, período em que teve a oportunidade de ouvir confidências, contato com segredos sofisticados, como conviveu com autoridades que tentaram usá-lo para “fabricar” dossiês contra os inimigos do poder. Em sua gestão, o delegado recebeu ordens de renomadas figuras palacianas para montar armadilhas, pois, o objetivo era apanhar adversários políticos.

Segundo o delegado, quando o então governador goiano, Marconi Perillo, declarou à imprensa que havia avisado o presidente Lula da Silva a respeito da existência da "Máfia do Mensalão", autoridades palacianas tentaram vergá-lo para montar um dossiê contra o governador.

E, nessa fábrica de dossiês cabeludos, o delegado foi ainda levado a montar um documento para incriminar o então senador Tasso Jereissati, então, um severo opositor ao Palácio do Planalto. O delegado conta haver recebido um pendrive do senador Aloizio Mercadante com o pedido para investigar o político cearense.

Em meio a esse tiroteio arquitetado por figurinhas palacianas ultrapoderosas, o policial encaminhou essas denúncias para serem, não, denunciadas, mas, investigadas.

O gestor da SNJ, na matéria publicada na revista "Veja", declarou que, desde 2008, o então ministro da Justiça, como deputados do partido político no poder, tentaram forçá-lo a vazar, para os meios de comunicação, documentos que autoridades da Suíça enviaram ao governo brasileiro.

A ordem do delegado para mandar apurar o que havia de irregular e ilegal não agradou os senhores do poder. E, por se negar "cair no samba do crioulo doido", foi massacrado pela máquina palaciana de difamação.

Espionagem do Planalto

Segundo Tuma, no ano de 2007, os ministros do Supremo Tribunal Federal chegaram a ser grampeados por agentes da Polícia Federal e da Abin. Para o ilegal grampeamento, os agentes fizeram uso de uma maleta francesa, usada para rastrear celulares em presídios, como por meio da implantação de equipamentos de escuta ambiental em seus computadores. O serviço mafioso era processado por funcionários, conhecidos como arapongas, que realizavam serviços gerais de segurança e limpeza nos gabinetes dessas autoridades.

Assassinato de Celso Daniel

O caso do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, que se processou em 2002, ornamenta a obra literária do policial injuriado pelo Planalto. Na matéria da revista citada, Tuma reproduziu um diálogo que manteve com o palaciano Gilberto Carvalho, e que, segundo o policial, o ministro confessou que entregava o dinheiro desviado da Prefeitura de Santo André nas mãos de José Dirceu, pois, o objetivo da operação nebulosa era ajudar o partido nas eleições do partido. Supunha-se que os empresários bem-sucedidos que carreavam propina para o partido dessa cidade paulista não tinham a intenção de tirar a vida do prefeito, mas a brincadeira virou homicídio.

Como delegado dessa região, Tuma diz ser o primeiro a chegar ao local em que o corpo do prefeito foi encontrado sem vida, e fotografou os cabelos do prefeito dentro do carro. Entretanto, o delegado foi afastado do caso e os peritos disseram que os cabelos encontrados eram apenas pelos de cachorro vira-lata. Porém, como as eleições se aproximavam, o PSDB não quis aprofundar as investigações, e o caso foi abortado.

Máfia do Mensalão

O antigo chefe do CNJ fez uso de seus vários pincéis para compor o cenário artístico que envolve a "Máfia do Mensalão". O delegado Tuma diz ter descoberto a conta nas Ilhas Cayman, famoso bordel fiscal do Caribe, mas nem a Polícia Federal nem o inquilino do Planalto quiseram investigar a nebulosa patifaria financeira não republicana. O policial injuriado diz que, quando participou do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), deparou-se com o engavetado pedido de cooperação internacional do governo brasileiro a seu par das Ilhas Cayman, relativo à apuração da existência de uma conta bancária do cidadão José Dirceu nesse paraíso fiscal.

Como em 2006 a revista "Veja" publicou matéria que José Dirceu teria conta bancária nas Ilhas Cayman, o governo buscava, com o pedido, obter em mãos o documento, exatamente, para provar que seu camarada era vítima de calúnia da instituição judaica paulista. O inquilino do Planalto não esperava ter a resposta positiva do governo caribenho, que, além de confirmar a possibilidade da existência da conta, se colocou à disposição do governo brasileiro para cooperar na localização precisa do dinheiro depositado. Como o executivo brasileiro se recusou "a cortar na carne", tratou de castrar a investigação que identificaria a suposta conta que ornamenta a "Máfia do Mensalão".

Apesar de ocupar cargo executivo no governo petista, convencido da existência de que tal conta era uma imensa lavanderia financeira, em 2007, o delegado enviou uma cópia do documento caribenho para o então ministro da Justiça, Tasso Genro, para este apurar a imensa "mina de ouro"; mas, até hoje, a solicitação de apuração jaz na gaveta da Polícia Federal e do Ministério da Justiça, segundo declarou o delegado pisoteado.

Julgado e condenado pelo Supremo Tribunal Federal, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, compre pena de prisão na Penitenciária da Papuda, em Brasília, pelo escândalo do Mensalão.

Ministro-Chefe da Casa Civil

Comandos revolucionários da Aliança de Libertação Nacional (ALN) e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), no Rio de Janeiro, sequestraram o embaixador norte-americano Charles Elbrick, que posteriormente, foi trocado por 15 presos políticos, e Dirceu foi um deles.

José Dirceu de Oliveira e Silva nasceu em Passa Quatro, Minas Gerais, foi advogado de profissão, deputado estadual (1987) e de deputado federal (1991, 1999, 2003). Ele foi preso em 1968 e no ano seguinte libertado, quando seguiu para o exílio em Cuba. O ativista trocou de nome e passou a se chamar "Carlos Henrique Gouveia de Melo". Em 1975, o líder estudantil revolucionário, após efetuar uma cirurgia plástica retornou clandestinamente ao Brasil, fixando residência na cidade paranaense de Cruzeiro do Oeste.

No ano seguinte, o revolucionário casou-se com Clara Becker. Somente em 1979, com a Lei da Anistia, ele contou a Clara que seu verdadeiro nome era Dirceu. Nesse ano, deixou a família e voltou a Cuba. Fez outra plástica e retornou ao Brasil como José Dirceu. Foi viver em São Paulo e se casou com a socióloga Maria Rita Garcia.

Quando Lula se tornou presidente, Dirceu exerceu a função de ministro-chefe da Casa Civil, até que, com denúncias de estar envolvido com a "Máfia do Mensalão", abandonou o cargo que exercia.

E, depois de 40 anos de vida pública, numa votação histórica, o deputado federal José Dirceu foi expulso da Câmara dos Deputados por 293 votos a 192. O homem forte na negociação política do governo Lula perdeu a chefia da Casa Civil, em junho, por denúncias de corrupção. Depois do longo processo, iniciado quando o também cassado deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) o acusou de comandar o escândalo do mensalão, o plenário da Câmara não esboçou qualquer reação quando o presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB), anunciou o resultado, aos nove minutos da madrugada do dia 1º de dezembro de 2005.

Na sexta-feira do dia 15 de novembro de 2013, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, expediu os 12 primeiros mandados de prisão de condenados no processo do mensalão, e lá estava o José Dirceu.

A Máfia Chinesa

O executivo que durante o período de três anos recebeu ordens para produzir e esquentar dossiês apócrifos de tonalidade difamatória para destruir adversários políticos do governo petista, mas que se recusou ser "o pai do filho bastardo", se diz vítima da máquina de difamação palaciana. Como não jogou o jogo sujo da elite dominante, foi vomitado da função e, pior, atingido por uma campanha de difamação, ao ser acusado de envolvimento com a máfia chinesa. Ao tentar se defender da peça perversa, todas as portas se fecharam, apesar de ter buscado todas as instâncias superiores.

De maneira que o livro que escreveu, "Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado", é a porta que se abriu para mostrar ao mundo a razão pela qual foi enxotado do cargo que ocupava. O livro foi escrito somente após o autor se aposentar, porquanto era funcionário do Estado. Foi com pesar que o delegado difamado viu seu pai, o delegado da Polícia Federal e senador Romeu Tuma, morrer (26 out. 2010) por causa da acusação perversa que lançaram sobre seu filho.

O Informante do Dops

Segundo Tuma Júnior, Luiz Inácio Lula da Silva foi informante do Dops, departamento de São Paulo, órgão federal dirigido por seu pai. Na condição de policial investigador do Dops, o delegado declarou que, por diversas vezes, viu o Lula dormir no sofá da sala do apartamento de seu pai, na condição de informante codinome "Barba". Devido a seus serviços prestados, foram gerados vários relatórios de inteligência e operações que evitaram conflitos com grevistas dos movimentos sindicais que se processaram na Grande São Paulo. Na condição de testemunha viva, o antigo chefe do CNJ afirmou que viu esses fatos ocorrerem na íntegra, e que "Barba" Negra prestou, com suas informações, um grande serviço ao Brasil. Assim, quando o "Barba" Negra, na condição de líder sindicalista, levantava manifestações de metalúrgicos na região do ABC paulista, tudo era anteriormente combinado com seu chefe, o delegado do Dops, Romeu Tuma, e conseguia manter a manifestação operária sob seu controle. O escritor entende que, se essa informação vazasse na época em que seu pai era vivo, ele e seu pai seriam assassinados.

No ano de 1979, o presidente Ernesto Geisel transmitiu o governo ao general ditador João Figueiredo, que havia sido chefe do SNI, época em que os índices econômicos se situavam no vermelho. O monstro da inflação de 15% em 1972 passou a 40% em 1978 e chegou a 110% em 1980. No fim de 1978 e início de 1979, a região paulista do ABC foi sacudida por movimentos grevistas de sindicatos metalúrgicos protestando contra baixos salários e melhores condições de trabalho, e cerca de 3 milhões de trabalhadores entraram em greve, e esta se espalhou pelo país. Ao lado de Luiz Inácio Lula, que estava na linha de frente comandando o movimento metalúrgico do ABC, Eduardo Suplicy e Fernando Henrique Cardoso costumavam distribuir panfletos na saída das fábricas da região, como participavam das assembleias e dos comitês de apoio às manifestações dos operários. E quando o líder sindical Lula foi preso, a dupla organizou um abaixo-assinado pedindo sua libertação, como o visitaram na prisão.

A partir de 1978, Lula, sindicalistas, Fernando Henrique e numerosos intelectuais se reuniam regularmente para discutir a formação de um partido político, e assim o Partido dos Trabalhadores foi criado em fevereiro de 1980.

Segundo fui informado por um colega arquiteto, cujo nome não consigo recordar, a empresa montadora de automóveis, Volkswagen, na Alemanha, atravessava um período de terríveis greves de operários. A situação tenebrosa levou a direção da montadora a planejar transferir a matriz para o Brasil. Sentindo o enorme bolsão de desemprego que tal tomada de decisão causaria ao meio operário alemão, a liderança sindical viajou ao Brasil para tratativas com sindicalistas locais. Enfim, quando as greves começaram a estourar no ABC paulista, o desejo da corporação alemã foi abortado. O poder de uma bolsa recheada de marco alemão foi tal, que "rasgou o Mar Vermelho" (Ex 14.21). De maneira que, qualquer ilação, constitui mera depravação.

FONTE:

.Diário Catarinense, mar. 2004.

.Tribuna da Bahia, abr. 2004.

.O Globo, dez. 2005.

.Diário de Pernambuco, nov. 2013.

.Veja, dez. 2013.

.Fernando Henrique Cardoso – O Brasil do Possível.

.CERQUEIRA, RNF. A Matança Illuminati - na América do Sul. Florianópolis: 2013. 302 p. Ainda não foi impresso.

RNF Cerqueira
Enviado por RNF Cerqueira em 13/12/2013
Reeditado em 14/12/2013
Código do texto: T4610991
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