TU ME ABANDONAS NO DESERTO
NA MANHÃ DE 13 DE DEZEMBRO DE 2103
Tu me abandonas no deserto de tudo. Ao renegares nossa história tu me lanças na mais inimaginável solidão... no deserto de mim... no deserto de nós... porque te recusas a compreender minha linguagem... o mais fundo e verdadeiro do que digo sempre te escapa... o meu amor te escapa... o meu amor por ti que precisei transmutar porque não me restou outra escolha... porque nenhuma outra escolha me restou...
Que posso dizer ou fazer diante das tuas certezas, sempre tão definitivas? Que posso fazer? No deserto da minha vida sem o oásis do teu olhar só me resta... a morte? Não, não morrerei, não se pode morrer senão no tempo decretado pelo Alto (pelo menos é o que penso); ainda que com essa morte no olhar e na alma em todos os momentos de cada dia, não se pode morrer. Eu tenho mãe e ainda tenho a mim (?????????????) Bem... se já não tenho a mim, terei que ter-me, em algum nível ainda, no nível em que, ainda, me for possível ter-me a mim. Sei que em quase nada, muito pouco, mas, no que vier a conseguir.
Tuas certezas do NÃO me condenam,como sempre, pena invisível sem remédio, sem remissão. Fazer o quê? Dizer que te amo? Se nunca nele, no meu amor, pudeste crer, se não podes nele crer, jamais poderás nele crer, jamais. Nunca, na verdade, nele, no meu amor, quiseste crer. Tu escolheste nunca crer nele, no meu amor. Há 25 séculos escolheste nele não crer. Não te posso impor a fé na alma.Tu és, sempre foste livre. Sempre. Sempre o serás.
Minha liberdade é a do cárcere, aliás, a de vários cárceres superpostos, paredes cercando paredes,o sol sempre do lado de fora. Uma criminosa que não se lembra de nenhum dos próprios crimes, condenada sem qualquer direito a defesa, por lado nenhum: personagem kafkiano. Tudo o que sou: personagem kafkiano.
Tu renegas nossa história, mas, falas como se fosse eu a renegá-la. Jamais a reneguei nem poderia renegá-la, que é a nossa história. Nossa história nascida sabe-se lá em que tempo, em que vida. Nossa história interminável, encarnada no próprio mistério. Tu queres que ela desapareça em ti. É tua decisão, não é a minha. Eu não sei e nem posso esquecer: isso não é minha escolha. Terei, no entanto, que viver como se a tivesse esquecido, a nossa história: essa é a grande condenação, parece-me.
Não te posso falar da Dor, da minha Dor: não adiantaria. Nada adianta porque o que queres é me extirpar de ti, como uma erva má que se quer arrancar pela raiz. Eu não sou uma erva má. Nunca a fui. Sei que não me podes compreender. As palavras nos separam, o silêncio já não nos consegue unir. Eu te permaneço fiel, de uma fidelidade que não consegues nem queres compreender. Uma fidelidade desde sempre, que não queres nem consegues compreender. Que jamais quiseste compreender.