Pesos e medidas

Chega um momento na vida de uma pessoa, onde ela se vê sobre pesos e medidas. Medindo e pesando o que viveu e o que deixou de viver. O que construiu e o que deixou de construir. Quem amou e a quem deixou de amar.

Hoje, perto dos 30 anos, me vi assim, contabilizando minha vida, usando uma trena imaginária para medir o quanto pude aproveitar e uma balança para pesar o quanto tudo isso valeu apena.

Fui uma criança feliz, que graças a Deus, diferente de muitas crianças que tem a infância roubada, eu fui criança. Brinquei como criança. Fui travessa como qualquer criança e carrego comigo minhas lindas cicatrizes desse tempo bom. Fui adolescente, e como tal, me rebelei, chorei muitas vezes por sentimentos que julguei ser amor, onde não fui correspondida e fiz chorar amores que não pude corresponder. Curti ou perdi noites na balada, fazendo amigos e despertando pequenas paixões. Mudei o visual milhão de vezes, me fiz e me refiz mais de milhões de vezes, talvez tentando encontrar algo que finalmente me definisse algo que me dissesse: Essa sou eu!

Mas, como toda fase tem seu tempo, o tempo passou e ai veio a fase adulta, onde a inocência é substituída pela necessidade de seriedade, ou responsabilidade. Ai vem as cobranças mais fortes de nós, sobre nós mesmos, que queremos a todo custo ser perfeitos, não aceitamos meio termo, não aceitamos mais ou menos. A simplicidade da vida ali vai se perdendo. Os fios brancos, causados mais por estresse do que pelo amadurecimento do corpo, as rugas causadas pela magoas que julgamos imperdoáveis e de esquecimento impossível. A gente vai ficando amargo, sem senso de humor, com raros sorrisos sinceros. Abraços tornam-se tapas nas costas sem calor humano e as mentiras vão tornando quase que parte de nós, pois delas vem muitas vezes, nossa chance para o sucesso momentâneo ou ilusório.

Mas felizmente, também é uma fase. Ai a gente se descobre, e passa a se conhecer, e vê que nunca amou de verdade, que nunca teve sucesso de verdade, quando olhamos para nós mesmo e sentimos que algo falta e existe um buraco não imaginário existe dentro de nós. Quando? Quando nós pegamos olhando famílias, crianças, pais, filhos... nos Pegamos estranhamente sentindo saudades de coisas que jamais vivemos. Olhar aquele pai ou mãe radiante ao correr com seu filho no parque, e ver o filho retribuir com um abraço sincero e com uma pureza que parecia nem mais existir. Ai a gente sente aquela dorzinha no peito e a sensação de que algo falta, e então se vê com medo da solidão e do triste fim que vem com ela. Ai você tem medo de nunca poder viver aquilo, porque você passa tempo de mais tentando ser o que não é, e tentando ter o que não precisa. Ai amigo, é inevitável, chega a hora de você perceber que sua balança esta mais pesada para o lado do... Meu tempo é curto e nada fiz pra ser feliz de verdade. Então você passa amar com mais verdade, e se doa de verdade também, ao perceber que ser um jovem sozinho é fácil, difícil é envelhecer sozinho. A partir daí, você ama mesmo, ama sem vergonha, sem medidas, apenas ama e é feliz. Você olha alguém, sorri, declara amor, casa, tem filhos e vê ao olhar no espelho que não precisa mais do que isso pra ser feliz de verdade, com a verdadeira felicidade, aquela que realmente interessa e te completa. Amar, ser o mundo de alguém. Assim me vejo hoje, completa, amante, amada, mãe... Feliz. Hoje sou o mundo de alguém, a necessidade diária de alguém, que precisa de mim. Ama estar comigo e não me pede nada em troca, a não ser amor. Minha filha, minha família, minha vida. Hoje tenho tudo o que realmente preciso. Não perco mais tempo a procura de coisas das quais quero, mas não preciso. Não me iludo mais com pessoas, que se julgam necessárias, mas não bastam nem a si mesmas. Infelizes passam anos tentando ser o mundo de alguém, mas não doam amor pra enfeitar o mundo de ninguém.

Agradeço a Deus, pela vida que tenho hoje. Pela família que tenho hoje, pelos abraços, sorrisos e carinhos que posso doar sem vergonha nem medo de ser feliz.

Mariana, você mudou minha vida, me transformou, me moldou, me refez.

Eu te amo minha florzinha!

Silvana Rodrigues
Enviado por Silvana Rodrigues em 18/11/2013
Reeditado em 25/08/2015
Código do texto: T4576095
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