Eu me importo.
Sentado do lado de fora, junto ao piar incessante dos pássaros que almejavam atenção, ele estava. Passara a noite toda ali, naquela mesma posição, olhando para o céu, olhando para o nada. Não sentia o vento gelado que lhe tocava o corpo em lugares proibidos, como nenhuma pessoa também o havia feito; não sentia o aroma adocicado das flores que, vítimas da efemeridade da vida, jaziam ao jardim. Apático ao luar daquela noite gélida. Decidiu se isolar da sociedade, por chegar a conclusão de que era uma peça que não se encaixava nesse jogo de mundo. Essa fora sua última decisão enquanto ainda estava lúcido. Decidiu que se alimentaria de suas entranhas e de suas palavras que morreriam dentro de seu âmago, sem serem pronunciadas.
Cansado de fazer as pessoas sofrerem com suas "inconstâncias emocionais" (assim era como sua psicóloga definia) ele resolveu se calar.
Algumas pessoas que souberam de seu caso diziam com vozes exaltadas que esses pensamentos sombrios de niilismo que ele tinha sobre a vida, só poderiam ser obra do arquiteto maligno cujo nome não deve ser pronunciado.
A verdade é que seu coração se sentia sufocado com tanta maldade no mundo. Era tão puro e translúcido quando as águas que caiam das cachoeiras de Visconde de Mauá, mas sentia que a cada dia que se passava o seu coração ia adquirindo uma cor fúnebre de tal sorte que o seu amor pela vida ia esfriando... E ia perdendo a sua funcionalidade dentro desse mundo.
Então ele simplesmente se rendeu aos desejos de um anjo da morte, e calou-se. Para sempre. E partiu da mesma forma que veio ao mundo: Sem ser notado.