Musiké Téchne
Todos temos um ritmo.
Seja para mover, falar, agir ou até pensar.
O ritmo humano faz a sociedade funcionar como belas engrenagens, todas perfeitamente alinhadas, todas perfeitamente confusas. Ouvir ao ritmo do mundo é como apreciar a sinfonia por trás do caos. Tolo é aquele que não escuta nada além de barulhos randômicos e desorientados.
De uma forma ou de outra, somos todos apreciadores de ritmos. Nos alimentamos de diversos fluxos ritmados da produção humana, muitas vezes sem nem precisar produzir mais.
O sonho utópico humano, no entanto, é poder apenas apreciar o ritmo, sem precisar criá-lo. Não estou dizendo que ninguém quer fazer algo, mas sim que ninguém quer se esforçar para inventar algo novo.
No decorrer da história vimos os mais diversos tipos de culturas e os mais diversos comportamentos humanos. Podemos, apesar das diferenças gigantescas, separar e classificar entre três modelos humanos: Os Criadores, os Repercussivos e os Apreciadores.
Os Apreciadores são aqueles que apenas escutam, observam e apreciam a obra resultante do ritmo alheio da sociedade.
Os Repercussivos são aqueles que reproduzem um ritmo ou uma base de criação de ritmo através de uma regra já pré-estabelecida, podendo estes serem os primeiros ou os últimos a apreciarem do resultado.
Por fim, os Criadores são aqueles que geram ideias, bases, padrões e ritmos novos através da análise do ritmo natural do ser humano.
Por qual motivo os criadores fazem isso? Sem eles não existe ritmo para ser produzido, sem eles não existe sinfonia, sem eles não existe repercussão ou apreciação. Qual o ganho maior nisso tudo?
A própria apreciação.
O homem Criador é uma espécie de Apreciador que aprendeu que, para se apreciar algo, é preciso que algo seja criado. Eles querem tanto, mas TANTO ter algo para apreciar, que muitas vezes acabam fazendo esse próprio algo.
Muitos foram os criadores que nasceram, mas poucos foram aqueles que se opuseram ao egoísmo dos demais homens. Poucos foram aqueles que conseguiram segurar-se ao ritmo daquilo que produziam e usaram isso como esperança própria e alheia ao mesmo tempo.
O tempo passa e a criação se torna cada vez mais perigosa, assassina do potencial dos verdadeiros criadores e adubadora da falsa criação, da repercussão disfarçada. Pois enquanto o Apreciador se tornou mais crítico e mais cego, o Ritmo se manteve "Ritmo", como sempre foi, passando a ser visto inteiramente apenas pelos próprios Criadores.
A criticidade alheia gera cada vez mais uma falta de respeito e o assassinato de dons e sonhos que, a essa altura, estão cada vez menores e menos ambiciosos.
Alguns Apreciadores se tornaram exclusivamente Repercussivos, neutralizando sua capacidade de avaliar impessoalmente o Ritmo de outras vertentes.
Então o mundo entrou em Caos.
E por muito tempo não se entendeu nada desse novo som, desse novo ritmo. Criaram-se guerras, criaram-se divisões. O Homem se tornou incapaz de apreciar Ritmos diferentes e aceitar Ritmos diferentes na opinião alheia.
Matou-se. Massacrou-se. Extinguiu-se.
Mas esse é o Ritmo do Homem.
Até que chegamos ao mundo onde o Homem começou a entender novamente o que é esse Caos. O Ritmo se fez mais forte, as vertentes aceitaram uma trégua na guerra por preferência, mas jamais houve paz.
A verdade é que existe gosto para tudo! A apreciação nunca será suprema e verdadeira para todas as vertentes do Ritmo humano, não! Mas respeitar a apreciação é algo necessário para a sobrevivência de todos os ritmos.
Eu sou um Criador da Musiké Téchne, A Arte das Musas. Eu combino os sons. Eu combino os ritmos. E eu já tive minha vontade de criar à beira da morte.
O criticismo irá tirar-te a vontade. O criticismo irá confundi-lo até nos assuntos mais certos da vida. Mas nunca deixe que isso mate seu Ritmo.
Pois um Criador sem seu ritmo perde uma energia que é única e insubstituível. Mesmo que seu ritmo lhe decepcione, lembre-se que as músicas não são todas feitas de adágio. Lute até nos momentos mais tântricos e desesperançosos de seu próprio som e nunca deixe seu ritmo morrer.
Lembre-se que tudo que é feito com sentimentos é feito com maestria. Tudo que é feito com maestria é Arte. E toda Arte é Ritmo.
A única pessoa que pode tirar seu ritmo de você...
É você mesmo.