A FLOR DO CORAÇÃO

“Caro Moncks, só para exercitarmos um pouco... Se numa folha em branco estiver escrito: Uma pedra... e quem escreveu é um grande poeta ou uma pessoa sem a intenção de nada maior, pode algum leitor enxergar na palavra a Poesia? Depende também do leitor tanto quanto do poeta o fazer e ler Poesia?”

– Ricardo Maurício, poeta, via Facebook, em 27/08/2013.

A relação literária necessita ter dois polos para que se possa instaurar. Sem o sentir do outro não ocorrerá a bilateralidade estética e nem teremos efetiva comunicação poética. Por esta razão é que proscrevo tanto a personalização do escrito, que é o resultado da possessão e do egoísmo do autor. O "eu" exclui o "nós"... Na maioria das vezes o chamado “eu poético” não se estabelece; o que transparece – vivamente – é o personagem ególatra subjacente... É necessário que se abra uma janela de prazer e gozo àquele que é o outro polo do processo de fruição: o leitor. Também por esta constatação é que sinto tão perceptível e viva a Confraternidade, na literatura poética... Estamos neste mundo, gregariamente enlaçados ao irmão. Por ele e por mim, para vivermos em paz... A Poesia provém do coração humano como um lírio que nasce do solo aparentemente pútrido: um convite nascido de palavras, gestos e atos para que se inaugure a felicidade como verdade plena. Obrigado por me permitires esta reflexão, porque tu és seiva de estimulação... E se não me fosses fraterno, jamais eu criaria esta interlocução. Porque estas pobres e tontas garatujas nascem do afeto e da alta consideração – hosanas à figura convidativa que representas em mim. Estamos aqui, por poetas, exercitando o que há de mais imanente à criatura: sua ternura e capacidade de transmutar o mundo para vir a ser feliz. A si próprio, com os olhos voltados para o próximo. Recria-se a figura crística em nós a todo o momento. E o poema, por vezes, em sua origem, são os antigos tropeços na “via dolorosa”...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

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