DIA DOS PAIS -

Talvez a sociedade do início dos anos 70 ainda estivesse com a mentalidade estruturada no ideal dos anos 60 sobre família padrão: pai, mãe, irmãos e avós, ou talvez a história que vou relatar foi protagonizada simplesmente por professores desatentos ou não envolvidos com a vida dos alunos, não sei ao certo. Todavia este relato é passado sem mágoa, trauma ou rancor, trata-se de simples alerta para que possamos olhar com sensibilidade e amor todas as situações que presenciarmos.

“Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo! São crianças como você...”

Renato Russo

A criança era criada pela mãe e avó materna com muita dificuldade, sem regalias ou mimos, pois a batalha diária para garantir o dinheiro do aluguel não permitia supérfluos. O pai era mera figura do passado da mãe, desconhecido de toda família, e absolutamente ignorado pela criança.

Agosto, início dos ensaios para apresentação do Dia dos Pais, atividades alegres na pré-escola, a criança, então com quatro anos, participava de tudo sem qualquer distinção. No dia da apresentação aos pais, a professora diz:

- Quando a dança acabar, todos ficarão sentados na beirada do palco, e serão retiradas pelo pai,após entregarem o presente.

Fácil imaginar a alegria desta criança, o verde em seu olhar era somente esperança e o peito transbordava a certeza de que conheceria seu pai. Mas a música terminou, criança assistiu coleguinhas sorridentes saírem no colo dos pais emocionados, enquanto ela buscava ansiosamente com os olhos o seu próprio pai. O palco esvaziando-se e a alegria dando lugar a preocupação. Uma professora vem avisá-la que a avó está no portão esperando por sua saída e que tem pressa.

- Mas hoje eu irei com o MEU PAI ! - A criança naquele momento era a personificação da esperança: pura e ingênua.

Em instantes a avó entra impaciente, exausta após um dia de trabalho braçal e com a sensibilidade abaixo de zero, pois assim a vida bruta lhe permitia ser, tirou-a do local, aos berros de indignação. Não se sabe dizer que fim levou o presente, mas sabe-se que após este incidente a criança adoentou-se o que levou uma tia a sair em busca do progenitor tão desejado, sem sucesso. O pai jamais foi conhecido, até que se tornou esquecido.

Concluo com duas mensagens : felizmente os tempos mudaram, parece-me haver uma preocupação das escolas em poupar ou preparar as crianças para momentos assim.

Segundo: digo sempre que apesar da dor, devemos procurar sempre ver a saudades como um comprovante de que algo bom foi vivido. Portanto neste dia dos Pais:

- aos que ainda possuem seu pai, abrace-o muito. Permita-os saberem da importância que têm em suas vidas.

- aos que já se despediram deles nesta vivência, agradeçam a oportunidade de saber o que é ter saudade de um Pai.