MANIFESTAÇÃO CONTRA AS MANIFESTAÇÕES
Não pude ir trabalhar hoje. Desocupados fecharam a saída com pneus em chamas e ameaçavam quem, como eu, desejava que fosse apenas mais um dia pacífico. Tive que voltar para casa ao saber que ninguém pode mais ir e vir. E o engraçado é que os “manifestantes” diziam marchar por “mais liberdade”, além de mais investimentos na saúde, na educação e em outras áreas.
Todo mundo quer isto, creio eu. Mas estas coisas não caem do céu. Quero dizer, amigos, que somos tiranizados pela economia. E a economia é, por definição clássica, a administração da escassez. Ouvi gente berrando contra a realização da copa. Mas não ouvi tanta gritaria quando da candidatura do país à sede do torneio, o momento certo de protestar: antes que o Brasil se comprometesse.
Além do mais, senhores, existe uma instância própria pra denunciar uma possível malversação de recursos públicos. A lei de improbidade administrativa está aí para punir administradores que utilizam mal o dinheiro que sai do nosso bolso. Mas é impossível conversar com esta gente. Eles querem bagunça.
Nunca se viu tanta liberdade como temos atualmente em nosso país. E tantas ações para compensar o desequilíbrio social. Metade das vagas nas universidades federais para estudantes das escolas públicas, casamento homossexual, lei Maria da Penha, etc. A justiça está completamente desamarrada. Se não faz mais, não é por falta de poder jurídico.
E o engraçado é que muitos dos cartazes levados pelos “defensores da liberdade” pedem a volta dos militares ao poder. Pensam que a volta deles vai trazer o Brasil de Tarcísio Meira e Glória Menezes, da TV em preto e branco, dos noventa milhões em ação, etc. Não sabem nada de história, o que foi a guerra fria. Não sabem que há uma grave crise econômica mundial.
Eu também quero uma vida sem impostos, taxas e tarifas; com comida, roupa e passagem de graça pra todos. Que houvesse hospitais e médicos em quantidade e qualidade suficientes. Que a escola e os professores fossem todos ótimos. Mas temos que botar as nossas mãos na cabeça e pensar no que fazemos pro nosso país melhorar.
É aquela velha história. Todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer. Ninguém admite sua parte na safadeza deste reino. Mas desconfio desta loucura, como diz Shakespeare em Hamlet, pois parece haver um método nela. Tenho a impressão que desejam criar um clima de guerra no ar por interesses políticos. Há uma eleição importante no ano que vem.
Não me interesso por estes assuntos e duvido que este ou aquele vá tornar este lugar melhor. A receita que ouço das bocas é sempre as mesmas: vamos cortar os gastos públicos, demitir o ministro da fazenda, melhorar a segurança, a saúde, as estradas. Quer dizer: precisamos ser governados por Jesus, que multiplicava peixes e pães a fim de alimentar a multidão que o acompanhava.
Quero sossego. Quero viver em paz. Não tenho culpa nesta zorra que está aí. Pago meus impostos sem reclamar. Prefiro a democracia à ditadura que muitos querem implantar. O governo tem instrumentos pra combater a bandalheira que ameaça aumentar nas ruas, como o Estado de Defesa e o Estado de Sítio. Manda a polícia prender e bater sem piedade. Se estes moleques não tiveram educação em casa, que aprendam da forma mais dolorosa.
Mas o governo está encurralado e a grande imprensa está doida pra que ele apele pra isto. As manchetes seriam garrafais. A provocação é clara. E quando há provocação, o melhor é não fazer nada. Bem, fiz meu desabafo. O jeito vai ser aturar estes idiotas. Enquanto me detiverem em minha casa aproveitarei pra estudar mais. E ler um pouco de poesia.