Escrevo-me
"Perguntou-me o que é que eu escrevia nos livros.
Respondi-lhe que me escrevia a mim.
Escrevo-me.
Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto.
E o que sinto é o que existo e o que sou.
Escrevo-me nas palavras mais intensas: amor, esperança, estrelas,
e nas palavras mais belas: claridade, pureza, céu.
Transformo-me todo em palavras.
Ele olhou-me,
e tudo isto ele sabia antes de me ter perguntado.
Depois, contei-lhe da mulher que existia dentro de mim
e que eu escrevia.
Ela é a mulher mais bonita do mundo.
Encontro-a quando fecho os olhos.
Ela é o amor,
porque nem o sol, nem as manhãs, nem a terra.
E tudo é uma força infinita a erguer-me.
Quando escrevo, tocamo-nos.
O amor é tudo o que existe.
Algo do seu rosto e da sua limpidez
atravessa-me e fica escrito
na palavras que são suas.
E tudo isto é um mistério de beleza,
tudo isto é um segredo impossível de desvendar,
tudo isto é impossível e verdadeiro.
Com ela, sei que cada instante
poderá ser o meu último arrependimento."