Portas e Janelas
Sempre que me ausento da solidão benéfica ao espírito sou surpreendida por gritos surdos que rompem o vasto charco de sofrimentos que é este mundo, mundo velho e sem porteira, diga-se de passagem!
E sem portas também é o homem, sem limites e sem segurança; escancarado e abandonado tornando-se assim depósito de todo tipo de energia, emoções e infeções.
Que carência mórbida é esta que anima o homem? Parece sofrer por prazer e querer!
A chantagem emocional denota apenas um excesso de vaidade. Não importa no que ser grande, o que interessa mesmo é ser grande, mesmo que para isso tenha de bazofiar que é um verme entre todos os vermes.
Na lama nasce a mais bela das flores, a lama é criada por lagrimas que semeamos na terra de nossos passos, somos nós a causa de nossas próprias dores, e injusto é clamar justiça; talvez o sofrer seja alimentado por esse clamor veemente por equidade, essa mania de evocar a desforra divina, transformando o amor do Criador em fogo devorador limpando o mundo do opróbrio que nos causa incômodo. A sabedoria do universo compreende quem é injusto, o homem apenas julga em sua posição soberana de ofendido, mas não se apercebe que o injusto é ele mesmo, e que é contribuinte para a ignomínia da humanidade tanto quanto qualquer outro... Tudo é por mérito de nosso trabalho; se há dores, oras, simplesmente é a paga de nossa vingança inconsequente neste orbe.
Ouso em minha insignificância pedir que:
Se chover em terra de casas de telhados esburacados, que não seja lamento e que não seja vista como maldição, não somos o centro dos acontecimentos da vida, não há privilégios... Que a chuva seja recebida como uma lição preciosa para que cuidemos de nosso telhado e respeitemos o telhado do alheio.
Não esperemos que salteadores invadam, coloquemos portas em nossos lares, não deixemos os ventos inocentes, que apenas sopram despreocupados e livres, arrastarem para dentro de nosso lar folhas secas e lixos de toda a sorte, coloquemos janelas... Mas não nos esqueçamos de abri-las para a luz do sol e o ar passarem junto ao canto de um pássaro; temos de abri-las a fim de ver o mundo, dar bom dia para quem passa; boa noite para a lua; ou ver se é seguro abrir para quem propor visita.
Levantem-se da dor e livrem-se da unha de Deus rasgando vossas almas; Amemos, sobretudo, despertemos e deixemos a chuva que se anuncia em céu escuro, preludio de tempestade, lavar toda a sujeira acumulada na alma. Aproveitem a chuva fresca, boa para se beber e banhar, pois próximo está o dia do Senhor. As chuvas serão ácidas o sol e a lua sucumbirá diante o homem, é quando terão todos os motivos para gritarem de dor, não mais irão desejar serem vistos, hão de buscar abrigo oculto na escuridão que dorme solicita embaixo da terra... Serão forçados à coragem de sobreviver em solo onde o ouro será tão descartável quanto uma lata de ervilha vazia.
Percebam a atmosfera, o silêncio, que antecede decisões difíceis, pairando no espaço que vivem, olhem os sinais e se desatem deste vicio em sofrer por coisas pequenas, pois o que é grande vem galopando um cavalo selvagem chamado mudança, o som de seu galope já é percebido... Ouçam o chamado de vossas almas e se coloquem em posição, cortem o pedúnculo que liga a humanidade ao espirito da grande Besta que se alimenta das reservas nascidas de nosso empenho em sermos defeituosos.