JUSTIÇA seja feita!
Eu não sou um processo de mil e poucas folhas!
Eu tenho vida! Tenho sonhos!
Eu choro, sofro e às vezes me desespero!
Não! Definitivamente não sou folhas escritas... Frias!
Tenho vida! Sangue! Tenho família!
Meu DEUS, eu tenho filhos que necessitam de mim para sobreviver!
Filhos que estudam... Filhos que sonham!
Não sou folhas que reivindicam meus direitos em vão!
Eu tive pai, mãe e marido que faleceram sem esse processo ter solução...
Eu não sou papel escrito... Eu sou dor...
Tenho alma que caminha na esperança de anos e anos numa Justiça lenta... Que tarda!
Retarda! Que me mata pouco a pouco!
Eu não quero nada de ninguém... Quero apenas o que é meu de direito!
Direito esse que foi me ceifado aos onze anos de idade! Hoje já estou com 45 anos...
JUSTIÇA MORTA eu estou ainda VIVA!
Sim... Não sou apenas um processo de folhas escritas... Frias!
Eu tenho anos e anos esperando essa JUSTIÇA!
Tenho uma história verdadeira! Sou uma anônima dentre a multidão clamando que apenas sejam mais ágeis... Eu e milhares também!
Pois não sou papel... Sou vida cansada! Vida se acaba...
E eu quero receber o que é meu!
O que foi roubado de minha família!
Não sou papel!
Eu tive um pai que morreu de tristeza de perder o fruto do seu árduo trabalho...
Uma mãe que sofreu a perca de meu pai... O seu grande amor!
Processo sobe e desce... Vai para mão de um... De outro! Volta... Anda pra lá e para cá! Caminha por mãos que não sabe o quanto sofro. O quanto já sofri!
Olhos leem palavras escritas... Mas não leem as linhas do meu coração!
Passa por mão de Juízes, Ministério Publico... Desembargadores!
Vai de uma vara para outra! Vara que atravessa minha alma!
É carga, pareceres, petições, notificação, recursos... Traslados!
Minha vida em meio dessas palavras! Parece o NADA!
Concluso, recebido na secretaria... Publicação!
ENROLAÇÃO!
Assim é minha dor... Dor de quem tem algo na JUSTIÇA!
Não... Não matei ninguém! Talvez se tivesse matado com certeza já estaria na rua livre!
Também não roubei... Não trafiquei... Nunca fiz mal a ninguém!
Eu sou honesta!
É apenas uma desapropriação do INCRA... Sim, terras invadidas por desocupados que nem plantaram uma mandioca... Mas que acabaram com as plantações de meu pai, mataram suas vacas leiteiras Gir. Destruíram seus sonhos... Seu trabalho e sua vida!
Não! Não éramos ricos! Meu pai e mãe eram trabalhadores... Não tínhamos sedes com mansões e nem piscina!
Tínhamos casa simples e aconchegante, fogão a lenha, bancos de madeira para sentar... Galinhas, porcos, cabrito e vontade de lutar!
Na época menina... Eu vi os “amigos” um a um de casa se afastar... A humilhação de perder tudo!
Eu não sou folhas de processo com mais de mil páginas!
Eu rezo, faço promessas... Rogo a DEUS um milagre!
Sou vida, sonhos e amor... Rastejando sobre a dor dessa falta de JUSTIÇA!