COTIDIANOS AFETOS

Vou aguentando tudo o que posso, com os cordéis do equilíbrio vital tesos, cuidando pra que não se rompam. Estou tentando, mas está complicado, talvez pela novidade de não saber bem como agir nessas questões de saúde em mim e na vida dos familiares... É este amor pela Poesia que me dá forças pra viver e ver o mundo como algo capaz de me polir inefavelmente em direção ao pó. Tenho refletido bastante sobre a interação psíquica entre a Poesia e o Real, esse "sal da terra" que imanta o ser em direção ao coração desorientado, mormente depois dos "... enta". Estou com o corpo gasto, mas tentando preservar o que resta de pureza... Ainda morro de cismas, com desejos e impertinências até em relação ao amar e suas sequelas. E ai de quem não os tenha... Porque é necessário atender aos afetos cotidianos e a algumas tarefas de um prosaísmo atroz e a palavra dita e pensada esvai-se num diálogo faminto. Também percebo em derredor os meus três gatinhos, que miam desesperadamente, roçando-se em minhas pernas. Por que a fome de comer, de amar e de dizer sempre dilacera a garganta e a voz se torna gutural, quase incompreensível?

– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2009/13.

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