Doravante

A um jovem poeta.

Já olhastes a tua volta hoje sequer por um instante?

Vistes as borboletas que pousaram no jardim

Dançando livremente sobre umas rosas? Não, não vistes!

Quando teus olhos são para o mundo

Que apenas queres ver

O mundo que existe deixa de ser de teus olhos

É por isso que em tua vida borboletas

Sempre serão borboletas, e o instante nada.

Então somos dois que não vemos poeta?

Do que adianta perceber a dança dessas

Borboletas sobre rosas brancas, vermelhas

Se lá fora onde o mundo acontece,

Longe, de suas desconhecidas poesias

O jardim de seus sonhos é esmagado

Pelos desejos de uma multidão

Aquela gente lá fora nunca

Sentirá o perfume das flores.

Para elas tuas rosas e tuas borboletas

Já nascem mortas.

Achas em teu intimo que sou

Como aquela gente lá fora?

Serias louco se não achastes, por que sou

Aqui longe, mesmo na solidão

Meus olhos e meu coração ainda choram

Por cada ferida aberta lá fora

Uma lágrima derramo aqui dentro

E se a poesia fora esquecida, como o amor foi

Assim como as borboletas e

As rosas de meu vão jardim.

O que mais será esquecido depois que eu for!

Morrer! Quando morrerdes serás mais

Um há deixardes dúvidas sobre a face da terra

Teu corpo salpicado pelos espinhos

E queimado pela cerra das velas

Revestido por um paletó negro

E teus pés por chinelos de dedos

Depois de morto às lágrimas que

Caírem em teu rosto

Voltaram mudas para o coração

Tocar-te será apenas para sentir sua fria pele

Será na cova escura tua morada

Quando na hora descerem o féretro

Serás instante, nada.

Estava na hora de descobrires que

Existe para mim como para todos

Uma passagem de ida e que o destino pouco importa

Céu, inferno, somente existem e

Perturbam enquanto estamos vivos

Nascemos, vivemos, morremos e

Tudo em um exato momento do tempo

E o tempo mais importante de

Nossas vidas é este que está passando por nós agora

É agora que o mundo chora, clama perdão

E absolvição dos miseráveis

É agora que crianças em desespero

Gritam num choro sem gestos pela dor da fome

É agora que o bem tem que sair do interior de nossas

Almas e vencer o mal que domina o nosso ser: É agora!

Não quero lhe dizer que o céu

É impossível de ser alcançado

Apenas dizer que somente os

Pássaros poetas conseguem tocar o céu

Não viva querendo tocar algo tão distante

Já será o bastante se tocardes

O amor e o amor do outro te tocar

É somente assim, nessa hora que

As rosas dos jardins não morrem mais

Quando teus olhos serem do amor

E o amor serem dos teus olhos...