Fala a mulher

Fala, mulher,

desabafa!

Há quanto tempo desrespeitada,

na tua dor enjaulada.

Blasfemam!

Dizem-te do lar a rainha

mas carregas a desmedida a dor

que também é minha.

Fala, mãe!

Fala de todo sofrimento.

Vomita o teu lamento!

Feita foste para seres endeusada

e de todos os amores embriagada.

E, no entanto,

vejo-te sorver de toda sorte o pranto,

magoada,

difamada,

a outros patamares relegada.

Vejo-te envelhecer distribuindo carinho

defendendo com bravura teu ninho.

Vejo-te guerreira,

eterna companheira,

sempre pronta para o perdão.

E o que te dão?

Fala, mulher,

grita bem alto!

Fala da dor que te oprime o peito.

Fala do preconceito.

Chega de ser

simplesmente objeto do prazer,

de luxúria, da ira desmedida.

Chega de lágrima escondida

que envelhece teu rosto tão cedo

aumentando, dia a dia o teu medo.

Chega de esconder os estupros disfarçados

pelas leis ignorados.

Chega de tolerar a violência

que as autoridades vêem com complacência.

Fala, mulher!

Deixa na história

tua luta eivada de glória.

Cleide Canton
Enviado por Cleide Canton em 10/08/2005
Código do texto: T41652