Fala a mulher
Fala, mulher,
desabafa!
Há quanto tempo desrespeitada,
na tua dor enjaulada.
Blasfemam!
Dizem-te do lar a rainha
mas carregas a desmedida a dor
que também é minha.
Fala, mãe!
Fala de todo sofrimento.
Vomita o teu lamento!
Feita foste para seres endeusada
e de todos os amores embriagada.
E, no entanto,
vejo-te sorver de toda sorte o pranto,
magoada,
difamada,
a outros patamares relegada.
Vejo-te envelhecer distribuindo carinho
defendendo com bravura teu ninho.
Vejo-te guerreira,
eterna companheira,
sempre pronta para o perdão.
E o que te dão?
Fala, mulher,
grita bem alto!
Fala da dor que te oprime o peito.
Fala do preconceito.
Chega de ser
simplesmente objeto do prazer,
de luxúria, da ira desmedida.
Chega de lágrima escondida
que envelhece teu rosto tão cedo
aumentando, dia a dia o teu medo.
Chega de esconder os estupros disfarçados
pelas leis ignorados.
Chega de tolerar a violência
que as autoridades vêem com complacência.
Fala, mulher!
Deixa na história
tua luta eivada de glória.