E a vida continua!!!

Uma vez perguntei ao meu pai que ele entendia sobre a morte.

A morte é como um vestibular que prestamos em nossas vidas. Optamos por estudar em qualquer cidade ou pais, se passarmos, somos obrigados a partir. - Respondeu meu pai.

Se ele estivesse entre nós, hoje estaria completando 83 anos, uma vida árdua, mas ao mesmo tempo repleta de amor, carinho, perdão, solidariedade. Para ele não haviam dias, horas, nada, quando se tratava daquelas pessoas que iam em busca de uma ajuda, um conselho, uma prece.

Eu ficava vez por outra indignada, porque via muitas pessoas repetidamente indo procura-lo, e lhe perguntei:

- Pai ,não seria melhor o senhor gravar as suas orientações e entregar a estas pessoas que toda a semana voltam aqui para ouvirem as mesmas coisas, e com isto o senhor só chega em casa pelas madrugadas por ouvi-las repetidamente?

- O burilamento espiritual não está sendo feito neles, mas em mim. – Ele me respondeu.

Hoje, paro para pensar em seus ensinamentos, seu desprendimento, seu propósito em ser alguém diferente em um mundo onde a crueldade e desumanidade vociferava, e mesmo a tudo isto marcou a vida de muitos que o procuravam em busca de paz.

Vez por outra eu estava passando por algum problema, eu o chamava mentalmente, quando dava por mim, ele adentrava em minha casa, sempre da mesma forma: Você me chamou, estou aqui !!!

Muitas coisas não precisavam ser explicadas, ele sabia, ele sentia e nos ajudava abaixo de meu Deus.

Tenho plena certeza de que meu pai, o Ir. Narciso, fora usado no propósito de aprendermos mais sobre a humildade, o amor e o perdão.

Quando eu o vi pela última vez, ele estava entrando na Kombi, ligou o rádio em suas musicas clássicas, perguntei o que ele tinha resolvido sobre o apartamento que ele queria comprar, ele olhou em meu olhos, sorriu e disse: - Não dá mais tempo e nem para Índia irei mais.

Nunca mais eu o vi, partiu para Goiânia, e nas 7 curvas eu entendi o que ele quis dizer sobre o “ não dá mais tempo”, e pude compreender sem egoísmo algum, e aceitar com gratidão que neste momento, o seu nome estava na lista dos aprovados do vestibular, e que ele iria morar em outra cidade, conhecer e ajudar outras pessoas. Aprendi que esse desprendimento, chama-se Amor, é aceitação dos desígnios de Deus sobre nossas vidas, é o rompimento do ego, é saber que nada nos pertence, tudo nos é emprestado por Deus e que um dia teremos que devolver, é saber que aonde meu pai estiver, Deus estará com ele, e ter a certeza de que Deus te um propósito em nossas vidas e nada mais nos resta, a não ser agradecer por todos aqueles que cruzaram nossos caminhos.

Ele foi cremado e suas cinzas jogadas no mar, vez por outra, imagino o mar com suas ondas impetuosas, meu pai sorrindo e me dizendo: GRAÇAS A DEUS, ESTÁ TUDO CERTO, A VIDA CONTINUA!!!!

Maria Bernadete
Enviado por Maria Bernadete em 28/02/2013
Código do texto: T4164108
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