Ela...
Havia cravado um punhal n’alma que dilacerava tudo quanto mais fosse essência... Os dias perderam o sentido e as horas, sem cores mais, passavam num tic-tac voraz... Rugia o tempo a esfregar em sua cara, pranteada, as obviedades do destino... N’alguns segundos, Deus até parecia surgir na luz que entrecortava a janela, mas só para lembrar que a felicidade lá de fora não entraria, talvez nunca. Ou quem sabe tenha estado lá por longo tempo, enquanto ela sonhava com outros rostos... Mas num momento de mágoa, fora embora sem olhar para trás. Deus não daria uma segunda chance. No caso dela, a milésima e última. Ela implorou. Ele nem sequer ergueu-se ao grito, às lágrimas, à urgência do coração... Sangrou, sangrou o pranto por horas a fio até que o fôlego, cansado, cessou. De lá para cá, com o fôlego, a vida e o desejo. Para não mais ver a luz do que poderia ser divino, cobriu os vitrais com lençóis negros e colocou a alma num porão mofado. Era lá que viveria até o último instante... Adormecida entre o pó e a culpa.