Moinhos ou Gigantes?
- Valha-me Deus! - disse Sancho. - Não vos avisei que olhásseis bem para o que íeis fazer? Que eram moinhos e não gigantes? Como é que alguém pode-se enganar assim?
(...) - Cala-te, amigo - respondeu Dom Quixote. - Esses são os azares da guerra. Eram gingantes, agora são moinhos.
(Trecho do livro “Dom Quixote”).
O trecho acima pertence a um clássico espanhol do escritor Miguel de Cervantes, do capítulo que narra a luta entre o cavaleiro andante e os terríveis gingantes. Dom Quixote é marcado por ricas fantasias de ser um cavaleiro que percorre o mundo em busca de batalhas e dedica o seu amor a jovem donzela Dulcinéia, vive quase que totalmente fora da realidade. Mais que colocar em relevância a loucura de Dom Quixote, este trecho traz grandes reflexões a nossa realidade. No auge da mente fantasiosa ele vê moinhos e pensa ser gigantes. Em nossa vida os moinhos podem trazer algumas representações como – movimento, ação, vida que jorra (água), indica produção de energia, atitudes. Os gigantes podem representar: algo inalcançável, adversidades, obstáculos. Muitos não vivem a fantasia de ser um cavaleiro andante, mas vivem em estado de miopia. Onde há apenas moinhos, enxergamos um turbilhão de gigantes, travamos lutas desnecessárias, damos vida a problemas que cresce apenas e infelizmente dentro de nós. Essa miopia fantasiosa é que transformam nossos obstáculos diários em problemas gigantescos, obstáculos estes que exigem de nós atitudes, exigem movimentação de ideias, exigem enxergar a figura metafórica de um moinho. Aprendi com um amigo que uma boa maneira de lidar com problemas é aprender a enxergá-lo com outros olhos. Tentar ver o problema como se ele não fosse seu, amenizar o drama em torno dele. E ao mesmo tempo sair da zona estressante em que se encontra (estar dentro do problema). Ampliar o modo de ver ajuda posicionar o problema e assim enxergar os diversos nuances em torno dele. E talvez também, ampliar a maneira como resolvê-lo. Estamos repensando dois tipos de pessoas, as que enxergam problemas onde não há. E as que fazem dos seus problemas enormes gigantes. Ambas estão caminhando um percurso que estagna a vida. Pessoas que reclamam de tudo e o tempo todo, não enxergam bondade, nem agradecimentos. Vivem o triste ciclo de procurar um problema atrás do outro. Uma constante estação de inverno, sem sol nem flores. Evidentemente as adversidades existem, mas também aprendi que se um problema não tem solução ele deixa de ser problema, e sem tem solução exigem de nós luta e não apenas choro. A arte da vida pertence aos fortes, estes tem algo a oferecer numa boa guerra, aos fracos cabe apenas à realidade de um dia inteiro perdido reclamando da vida e não vivendo a vida.
Remetendo a Dom Quixote... Às vezes tudo depende apenas da maneira que olhamos cada canto da nossa vida, fazemos de moinhos gigantes...
Cyrlene Rita dos Santos.