Prefácio: Encruzilhadas
Complexos labirintos, obscuros caminhos, paisagens estáticas permeadas de cinza,desafios por vencer na rapidez imposta pelo tempo.
Desabrocharam as inocentes flores campestres perfumadas de sonhos.
Viu-se a transmutação da paisagem, primavera tardia, flores ausentes.
Viver transformou-se em uma insana e, por vezes, dolorosa luta
em meio aos pontiagudos espinhos da realidade descortinada sem pedir licença.
A exuberância das flores, o frescor da primeira primavera, a harmonia das pétalas, tudo fascinante, tudo tão perene!
Foram-se os ramalhetes, os botões, os caramanchões perfumados.
A terra fértil tornou-se, pela ação do implacável contador da vida - o tempo, estéril, dura, silenciosa, amarga, tristonha, estéril.
A árida vegetação formou, com incrível rapidez, canteiros demarcados pelo crescimento assustador das pragas, galhos entrelaçados, labirintos, tornando impossível desvendar caminhos outrora amenos.
O breve existir assemelha-se a labirintos. O amor revelado nas flores e as dores nos espinhos que surgem em abundância, estabelecendo a sintonia entre sonhos agonizantes e a dolorosa realidade.
Como a primeira rosa matinal, surge a menina lívida com os olhos orvalhados de inocência.
Em um mundo infinitamente azul, encontra o príncipe de contos de fadas e experimenta o desabrochar do amor.
Anseios, receios, medos, segredos, desejos infindos, tortuosas estradas, encruzilhadas, labirintos, renúncias, paisagens, miragens, lágrimas, nostalgia, coragem.
Os caminhos percorridos na dança do existir tornaram-se etéreos palcos para as escuras teias tecidas pelo amor distanciado.
Para iluminá-lo, a alma precisou lançar mão de todas as estrelas guardadas no embornal da esperança, impedindo assim a morte prematura do espetáculo.
Imortal - assim se desnuda o amor que a obra descortina.
Porém, o tempo encarregou-se de construir poderosas trincheiras, onde pereceram sonhos esmagados pela realidade quando, em meio à encruzilhada, optou por dizer adeus no momento em que o coração implorava para ficar.
Indiferentes ao sofrimento concreto desfilam lembranças como que fotografias guardadas nos porta-retratos da alma, preservando aromas, cores, momentos, paixão, amor desmedido.
Em meio ao caos, a empurrar o singelo existir, sangram as chagas, grita o peito, chora a saudade.
Gradativamente a cura, o secar do pranto, a força para carregar a saudade – é preciso seguir.
No vendaval das expectativas colhe, vez ou outra, flores do afeto, experimenta o perfume, se reinventa, como passeia com galhardia através das letras, mesmo sabendo dos raros momentos, dos labirintos, das encruzilhadas.
Mais que uma surpreendente obra, este livro escrito pela talentosa Su Aquino envolve o leitor, de forma intensa, diante do generoso compartilhar da emoção.
Ana Stoppa
(O livro ainda não foi publicado)