BARCOS AO MAR
 
“Quando o mar está revolto, a prudência aconselha a deixar os barcos no porto. Mas é preciso não esquecer que barcos são construídos para navegar, e os portos para recebê-los, para carregar ou descarregar produtos.”
 
Um ano termina e outro ano começa.  A tendência normal é que a gente pare um pouco para pensar e descansar. Descansar da pauleira do ano que passou e pensar no que fazer no ano que começa. Deitado numa rede numa casa de praia, ou de campo, ou no convés de um navio, ou ainda na varanda da casa de um parente no interior, num rancho na beira de um rio, onde a gente foi para pescar, todos nós adotamos a postura do deus romano Janus, aquele que tinha duas cabeças, uma voltada para a frente, outra para traz. Uma olhava para o passado, analisando o que tinha feito, outra voltada para a frente, ruminando no que devia fazer no futuro. Aliás, foi por isso que o primeiro dia do ano do calendário romano, o chamado calendário Juliano, recebeu o nome de janeiro, ou seja, o mês de Janus.
Os romanos eram um povo muito prático, por isso deram nomes aos meses de acordo com as práticas e tradições que eles observavam. Assim, se janeiro era o mês da análise do que foi feito no passado e meditação do se devia fazer no futuro, fevereiro era o mês das “lupercálias”, ou seja o mês da purificação, na qual as pessoas costumavam realizar o festival que recebia esse nome, em homenagem ao deus Pã, ocasião em que eram oferecidos sacrifícios expiatórios com a finalidade de se purgar os males do passado e preparar as benesses pra o futuro. Essa tradição sobrevive hoje na motivação do nosso carnaval, que embora tenha se tornado mais uma indústria turística do que uma cerimônia de fundo religioso, como era em Roma, conserva ainda aquela aura de paganismo purgatório, onde as almas são “lavadas” na orgia de Momo, como se dessa forma estivessem sendo preparadas para começar a “guerra” do ano. E não é a toa que o mês seguinte se chama março, ou seja, o deus da guerra, Marte.
Um povo bastante interessante, os romanos. Tudo que faziam, faziam por uma razão prática. Foi essa filosofia que os levou a dominar metade do mundo na sua época. Quando o abandonaram, o seu império, construído em mais de mil anos de ação e pragmatismo, ruiu.
A frase acima, ou qualquer coisa parecida, é atribuída a Sêneca, filósofo que viveu no tempo do imperador Nero. Roma havia perdido boa parte de sua frota numa guerra contra piratas silesianos por que seu general comandante a deixara parada no porto por muito tempo, esperando que melhores condições de tempo sobreviessem.
Essa é uma boa lição. Passada a letargia do Natal e do Reveillon, vamos lançar nossos barcos ao mar. Afinal, para navegar é que eles são feitos.


João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 03/01/2013
Reeditado em 12/01/2013
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