Um dia depois do fim!

Quisera houvesse um jeito de exterminar com o homem sem dar cabo à terra... Destruir quem fez proliferar a maldade, tingindo de vermelho sangue o planeta azul, antes que ele extermine de vez com o seu semelhante... Acabar com essa desumanidade, essa raça de víboras que de humana fez-se fera... Fera que ferra, domina e mata. Que transformou a terra num latifúndio de poucos, onde nem minifúndio onde repouse ossos, restou aos que sobraram nessa disputa infame e desleal, posto que tantos nem mortos têm onde descansar. Mundo de poucos fartos e muitos Lázaros de poucos banquetes e muitas migalhas...Ah se houvesse um jeito de acabar com essa raça de predadores de gente, de garras afiadas, de criaturas que se voltaram contra a o criador e a criação...Que se varresse do solo e se lavasse a terra ... Que se extirpasse pela raiz, essa pústula racional que infecta o mundo, que se extraísse com dores esses vis moradores, ocupantes de tudo,que cavalgam com esporas,rédeas e celas sobre o pouco que restou do seu semelhante... Ah se houvesse um jeito de interromper a corrida desenfreada dessa tropa sem escrúpulos que marcha sem trégua sobre o próximo e o faz de invisível, o reduz a frangalhos, pisoteando direitos e conceitos, esmagando a solidariedade, resfolegando e babando sobre o que um dia foi amor. Matando a honra, a identidade e o eu, de quem sequer pode ser metade do que pensou que seria...Se houvesse uma maneira de destruir tesouros desse ser predatório que devora -canibal de almas-, o sentimento do próximo .Que destrói não os sonhos, pois sonhos já não existem,mas o direito de sonhar! Que domina e arrasta os que sem forças não podem emitir um "não “... Dessa gente que come ao lado de quem a fome já não deixa forças, senão a de pedir... De monstros que dormem o sono dos injustos, enquanto na noite lá fora o frio e a miséria impedem que o outro consiga dormir... Cuja riqueza lhe faz sentir, qual no conto de fadas, uma ervilha sob o colchão, mas sensibilidade não têm, para sentir a dureza de um banco de concreto onde tenta dormitar um seu semelhante... Ah se houvesse uma maneira de dedetizar essa terra que foi deixada a todos, como herança de deuses, mas arrancada a força, de quem ousou se apossar de um bocado de nada, um pedaço de chão, de uma vida, um lar... De quem teve imposto como destino a desgraça... Ah se eu fosse Deus, por um minuto, sequer, ah se eu tivesse em minhas mãos, a taça da sua ira, se fosse dona por instantes da sua indignação,... Por que insensíveis, não sentem a dor que abate as entranhas de quem se curva e afaga o estômago doido, por falta de pão... Por que não sentem o cansaço de daquele que carrega o mundo nos ombros, que geme e sofre que olha ao lado sem poder contar com a mão, que encolhida pela ganância já não consegue alcançar a outra mão que estendida, lhe pede piedade, ao coração que se fez cego, aos olhos que não veem ao os ouvidos surdos ao clamor que ecoa do lado de fora desse mundo só seu, protegido pela ambição, cercado de glória, cujo brilho ofusca a miséria do irmão... que segue sem olhar para o lado ou para baixo, olhos fixos que traz num universo particular.Ah, Deus, deixa-me ser tu, deixa-me ser ferrugem, deixa-me ser traça... Mostraria aos avaros do que vale o seu tesouro. Deixa-me ser morte, dá-me as armas e o antídoto contra o veneno do mal que se abateu sobre os homens... Que de corpos aquecidos e alma fria, não sentem o que sente uma parte de outros que também é parte sua e centelha tua... Deixa-me ser vento que varra do oriente ao ocidente, essa praga que infesta a terra que deveria ser habitada por quem tem caridade, por quem sonha que os homens deveriam se dar as mãos . Não te peço que lhes mude o coração,posto que o têm de pedra,mas que lhes mostre que foram feitos do mesmo barro e que destruídos, não reaproveitáveis para vasos novos, repousem sob os pés dos humilhados .Por que se me fosse dado o poder de recriar um outro mundo sobre escombros deste que eu não sonhei habitar, faria ressurgir, não nova terra, mas nova gente que semeasse justiça e colhesse união. Poria alma em seus corpos, amor em seus braços e não mais haveria essa parte de gente que morreu antes de nascer, por falta de água, de amor e de pão... Seria terra limpa, feita de igualdade,uma outra espécie,uma raça pura...Um gen modificado, de gente pegando o seu quinhão e vivendo como cordeiros, e amando o irmão... Um governo reto que tombasse por terra os versos mórbidos "Eu vi um bicho no lixo catando detritos, não era um bicho, meu Deus, era um homem”, e cravasse na rocha o sonho do salmista: ”Que do pó se erga o pequeno e do monturo se levante o necessitado”!

#por que não há mais trombetas mágicas, que a um simples toque derrubem o muro da desigualdade que separa do homem o outro homem!