Fuga...
Os olhos ardiam e todo o mundo tornava-se turvo, quase negros os meios-fios, tortos, mas ela não poderia parar de correr do destino. Era a coragem ou a morte... Corria como quem nadasse contra a maior das ondas, rebentando nas pedras, escurecendo ao cair da tempestade mais feroz... Corria de si mesma e daquilo que esperava deixar para trás, sonhos petrificados, emoções danosas e medos brutos... Como alguém que pudesse chorar ao final das curvas, sem deixar os calcanhares derraparem, sem medir o calor das noites embebidas de ócio... Corria e, quase sem fôlego, tentava chegar a lugar algum, a qualquer lugar onde merecesse repouso. Mas nunca poderia voltar, sequer olhar para trás... Melhor derramar o sangue da inexatidão do tempo que debruçar lágrimas de saudade e dor... Tudo uma questão de escolha e não mais as histórias de amores doentios. Correr não era solução, era caminho e prenuncia de que, mesmo farpada a alma, haveria luz para enxergar no final de uma das estradas. Nada maior que a morte. Apenas uma fuga para deixar de carregar cicatrizes e proclamar mais dias sem sol. Uma questão de tempo. Era a corrida da vida, onde o pódio, talvez, fosse os braços de Deus ou, quem sabe, o recomeço da própria história.