Dilema

A triste solidão desta noite, desagradável de tão insistente, me faz pensar no quanto amar é difícil. Presas à minha melancolia, questões inexplicáveis ou até de difícil aceitação, tornam a perturbar meu sossego, sugerindo que amor e razão são duas coisas muito distantes, uma chega a se opor a outra. Há, entre elas, algo de disputa, que inevitavelmente promove a dor.

Em mim a certeza de que amor mesmo, de verdade, como ingenuamente eu desejei um dia, jamais vou ter, é cada vez maior. Não sei se pelo difícil que é, ou se pela minha sede de infinito que me impede de reconhecê-lo em formas mais simples. O que tenho visto das histórias de amor é o quanto esse sentimento é exigente. Ele faz com que você se submeta a situações de desconforto. E, se chega a parecer que vai dar certo, algo inusitado acontece e a “força do amor”, antes inabalável, se deixa massacrar. O amor quer a perfeição. Ou eu a quero, não sei. Minha tentativa aqui é me encontrar, descobrir porque é tão difícil. Mas o que sei é que um ser que ama está sempre se confrontando com obstáculos e, às vezes, eles são difíceis de ultrapassar!

Vejo que o amor nos põe diante de decisões que precisam ser tomadas de imediato: “quero amar, ou quero ser feliz?” Esses contextos deixam a ideia de que amor e felicidade não se reconhecem juntos. Podem até se encontrar em algum momento, mas juntos, eles não conseguem. E isso me confunde porque esse era o meu maior desejo: amar e ser feliz. E queria essa felicidade pra toda a humanidade. Mas os infortúnios são tantos!

Pela literatura eu vejo as lindas histórias de amor interrompidas pela “praticidade” da vida. Existem os prós e os contras e às vezes é preciso saber dosar bem esses pontos antes de fazer uma escolha. O amor deveria ser a opção mais segura. Mas ele, em sendo o escolhido, muitas vezes traz angústia, dor e sofrimento. Então nos vemos diante de um dilema: “quero conforto, paz, tranquilidade... ou quero amar, descontroladamente, suportando o que vier junto a esse sentimento que deveria ser o primeiro em toda relação?”

Amar por outras razões como por gratidão, por exemplo, é algo que me incomoda. Preferia o amor que explode, faz viver e querer ser infinito. O amor que faz ferver o sangue e junto a isso, despertar uma cadeia de outros grandes sentimentos que sustentam um relacionamento, com igual força, mesmo que a paixão do começo se veja diminuída.

Não estou num livro, num romance dramático que alguém escreveu, minha história é real. De repente eu me vejo querendo o amor, mas penso que ele não virá. Não ouço sinais, não percebo nada de promessas. Melhor esquecer e buscar outro rumo, algo mais próximo do real, e menos doloroso. Não nasci pra sofrer, nasci pra amar e ser amada, muito bem amada, mas se esse amor que idealizo não existe devo buscar outra forma de viver.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 14/12/2012
Reeditado em 14/12/2015
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