DESCARTE DE RESÍDUOS TECNOLÓGICOS

Ontem (sábado) à tarde assisti a uma reportagem sobre o descarte de resíduos tecnológicos em Gana, na África. São milhões de toneladas de resíduos despejadas a cada ano, em lixões a céu aberto.

As nações desenvolvidas, em sentido contrário às regulamentações internacionais, enviam o lixo - tóxico - às nações periféricas da África e da Ásia, descaracterizando o descarte como "doação". Do lixo recebido, apenas dez por cento podem ser utilizados (cinco por cento dos produtos funcionam precariamente e os outros cinco por cento podem ser utilizados depois de consertados).

O povo, sem qualquer proteção (luvas, calçados, máscara etc.), garimpa nos entulhos (de propriedade privada, a quem devem uma taxa sobre o material retirado), à procura de ouro, prata e outros metais, expondo-se à contaminação.

Isso porque os países receptores não contam com...qualquer infra-estrutura para gerir os resíduos, que incluem metais pesados como níquel, chumbo ou cádmio, que podem gerar graves problemas de saúde.

Ao final da matéria, a jornalista (loira, de cabelos lisos e bem maquiada) pronunciou-se, em um comentário infeliz: "Que ótima notícia! Esse povo pode sobreviver à custa dos lixões!"

Ela assistiu a matéria? Se assistiu, entendeu a mensagem?

A resposta é, certamente, não.

Somos brasileiros, criativos, e essa notícia pode trazer algo de bom. Quanto de um computador pode ser reaproveitado? Temos experiência e tecnologia em reciclagem (plástico, alumínio, pneus, material de construção, vidro, papel e outras matérias primas), o que não existe nas nações receptoras.

O Brasil é grande consumidor de eletrônicos. Por consequência, é - e será cada vez mais - grande produtor de lixo eletrônico.

De que materiais é feito um computador? O que fazer com os resíduos? São passíveis de reciclagem? Qual o processo? Como captar os materiais? Temos, já, a destinação adequada ao nosso lixo? Nós o enviaremos às nações menos favorecidas, ao lixão da periferia ou encararemos esta como mais uma fonte de riqueza e oportunidades?

Maria da Glória Perez Delgado Sanches

Membro Correspondente da ACLAC – Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências de Arraial do Cabo, RJ.

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