Crise Existencial
Sinto-me um nada de tudo
Num vazio casual programado e perfeito
Pergunto-me o que valeria a pena fazer, escrever ou desenhar
Acordar para mais um dia feito um zumbi e logo morrer dormindo
Dormi mais uma noite acompanhado comigo mesmo
Nu na cama
Vestido de pudores coloridos
Sonhar com mais um sonho distante
Num pesadelo eterno morfológico
Não tenho esposa
Uma mulher qualquer que me dê prazer
Não tenho filhos
Não gosto de choro de bebê
Não amo o amor como eles amam sem ousar
Não amei a noite o dia
Não sou amado pela amada
Os amigos nunca foram amigos
Queriam algo de que necessitavam
E eu os dei sem lhes dar um sorriso fácil
Dos inimigos ri de suas fraquezas - não eram maldades
Era cegueira de bondade,compreensão,ingratidão tamanha
Da família: o ócio sentimental, frieza de mórbida e nada casual
Quando morrer: não quero ser acordado-não quero ser socorrido-Esqueça-me, onde eu estiver-Céu ou Inferno
Não quero Deus
Não quero o Diabo
Quero pairar numa região inóspita
Quem sabe poder lê de lá as poesias da Dorinha Estrela
Os contos dos colegas do Recanto das Letras
Sendo assim terei uma gota de felicidade
Que me arrastará numa enxurrada de letras
Quando a noite chega
Isolome-me no meu quarto
No escuro
E lembro da mulher
Que tanto cuidei
E foi-se com o filho dela
Nunca foi meu
Sem dizer adeus ou obrigado.
Por quê?
Tamanha vingança maldita?
Culpas de vidas passadas?
Egocentrismo descabido
Maldade sem limites?
Sinto-me um nada
Quando lembro do seu sorriso angelical
E dou um sorriso
Sem sentir a sua falta