OLHA PRA MIM
Moro na rua
Sou filha tua
Não foge não.
Olha como estou
Veja o que restou
Fruto da sua omissão...
Sou só pele e osso
Carne de pescoço
Resto de ser humano.
Desvia teus passos
Nega teus abraços
Em fugir insano.
Cadê a misericórdia?
Semeia discórdia
E se faz de santo.
Te peço pão
Tenho sede e fome
Não tenho teto, nem nome...
Sou Maria, sou João,
Pra você eu sou ninguém
Não valho nem um vintém.
Sou o que você escorraça
Que chama de vagabundo.
Durmo naquela praça
Espanto o frio com cachaça.
Minha casa é o mundo.
Família? Já tive sim
Mas tem vergonha de mim
Foram embora.
Sou filha da desgraça
Parida na tua porta
Quando você me negou
Foi a maldita hora
Em que tudo começou.
Sou filho da tua ganância
Escravo da ignorância.
Com que você me tratou.
Sou filho e filha da vida
Irmão da tua desdita
Que você rejeitou.
E hoje sou uma sombra
Que pelas ruas assombra
Consciência que você matou.