EM POESIA, CONTAGEM SILÁBICA GRAMATICAL?

Chega a mim, via site do Recanto das Letras, a mensagem abaixo, contendo interessante tema. Que tal a gente ver?

Assunto: primeiro contato

Nome: Rachel dos Santos Dias

E-mail: rachel.santosdias@gmail.com

IP: 187.106.14.9

10 de outubro de 2012, 21h01min.

Saudações. O sr. me foi citado pelo escritor José Luiz Pires, de Campinas/SP, num sarau do Portal do Poeta Brasileiro. Havia mostrado a ele um poema de nova forma que criei e dei o nome de "escalonado". Ele me disse que o sr. poderia me orientar para que a criação dessa forma de poema permanecesse como de minha autoria. Se possível, gostaria de ter notícias suas. Exemplo dessa forma de poema:

É 1

Chuva 2

Caindo... 3

É água só... 4

Chuva bendita 5

Enviada por Deus. 6

Da seca, cobrindo o pó 7

Embala a noite tão linda! 8

Faz-me dormir tão de mansinho... 9

Presente de Deus, ó chuva linda! 10

Obrigada pela atenção, Sr. Joaquim. Saudações. Rachel.

Em 11 de outubro de 2012, 00h08min:

Rachel, querida!

Essas formas e fórmulas de conceber o poema não são fixadas por nenhum órgão, ou seja, inexiste um órgão que registre direitos (autorais) de concepções de formas de como apresentar os versos. O que teríamos é o registro para a proteção de obra publicada ou a publicar, que se dá na Fundação Biblioteca Nacional – FBN, sediada no Rio de Janeiro, e que presta esse serviço também de maneira descentralizada, através de entidades conveniadas, em alguns Estados da Federação. No caso, o que pretendes não é meramente um registro autoral e, sim o patenteamento de uma forma de apresentação de versos, que entendes constituir um novo conjunto formal, tecnicamente. Há algumas empresas que se dedicam especificamente à obtenção de patentes de invenção. Poderias tentar por aí... Além do mais, pelo que vejo, tu queres definir o "escalonamento" segundo as sílabas poéticas que compõem o verso, aos moldes da velha escola clássica, só que não me parece que saibas contar as sílabas poéticas, visto que, a um rápido modo de ver, tu contaste as sílabas gramaticalmente, e as sílabas, em Poesia, são SÍLABAS FÔNICAS. Dá uma olhada, primeiro, aqui mesmo no tio Google, como se faz a contagem de sílabas poética, ou seja, o que se chama, tecnicamente, ESCANSÃO. Segundo a escansão do verso clássico – que está em pleno desuso desde meados do século XX, com a predominância do verso branco ou livre, espécime poético do modernismo – a contagem das sílabas se dá até a última sílaba tônica, e não é isso que eu vejo no teu poema-exemplo. Dá uma olhada no que se chama SÍLABA MORTA, certo? Assim, o teu verso 09 tem 08 sílabas poéticas ou fônicas, e o teu verso 10 tem somente 09, Ok? Acho que, primeiro, necessitas aprender a fazer também as ELISÕES, que são FUSÕES que ocorrem nas contagens silábicas, formando uma única sílaba fônica, como no caso de "Deus", e em "... em/ba/la ... a... "em que ocorre a fusão de duas vogais, formando uma única sílaba poética. Assim, Deus, forma uma única sílaba, e no outro caso citado, são apenas três sílabas poéticas ou fônicas. Podem ocorrer elisões com até três vogais, fornecendo uma única sílaba poética. Por ora é o que te posso orientar. Criar coisas novas em Poesia não é tão fácil assim... Ainda mais tendo como critério a SILABAÇÃO. E mais, quem faz verso silabado e rimado está fazendo versos segundo a velha escola, sendo que os cânones formais de hoje (a partir de 1922, no Brasil) obedecem ao modernismo, que representa a libertação dos dogmas de silabação e rimação. Abraços do poetinha JM.

11 de outubro de 2012 10h08min:

Caro Poeta Joaquim Moncks

A informação principal que precisava e que me levou a lhe escrever, o Senhor gentilmente me deu: inexiste um órgão que registre direitos autorais de concepções de formas de como apresentar os versos. Por esse esclarecimento, agradeço muito. O Senhor foi muito atencioso em me responder.

Sei que no pretenso “poema” que lhe mandei, não fui rigorosa nem na contagem das sílabas gramaticais. Ele foi somente um exemplo para obter do senhor a informação requerida.

Sobre as demais informações que me brindou, melhor esclareço:

Minha intenção na elaboração desses versos é justamente usar as sílabas gramaticais. Meu objetivo é direto: a faixa etária de primeiro acesso à escola, em que alguns dos meus netos estão, necessita de exercícios de separação e contagem dessas sílabas especificamente. Essa é a finalidade dos versos escalonados: exercitá-los. Nada mais.

Em acréscimo, faço questão também de lhe agradecer pela aula sobre a elaboração de versos. Caso precise, tenho com essa aula, como poupar meu tempo de pesquisas no Tio Google, como jocosamente disse.

Assim, termino enviando ao Poetão JM um grande abraço de agradecimento. Esta sou eu: beijos e paz.

Assino: pretensa poetisa Rachel dos Santos Dias.

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.