A IMPERFEIÇÃO DE FINGIR

Para mim, não há nada mais difícil de trazer à vida do que um poema dedicado especificamente a uma pessoa. O poema é o retrato do coração pleno de espiritualidade e este foco pressupõe convivências e trocas, enfim, o exercício da confraternidade. Não há nada mais puro e vivificante do que o FRATERNO materializado em palavras e gestos. Bem, reporto-me, nas relações humanas, à exceção, o fruto do espiritual, em que não há a presença dos albores da libido. A regra ocorrente é forte e arrebatadora: quando o lirismo amoroso chega, nunca bate à porta, simplesmente porque ele já está dentro do coração, e aí, foi-se o espiritual. E a peça escritural que daí surge, não chega a ser poema, é a palavra também nua, recheada de doçura – o RECADO AMOROSO – que a tudo permite em ações e palavra, e que provém do reinado da possessão, sua expressão mais insinuante e gozosa... Por não nos conhecermos, presencialmente, permanece o desejo de saber dos (teus) reinos, descobri-los, mesmo que superficialmente, e sem insinuações intimistas. Talvez aí, nos recatos da convivência das naturezas homem-mulher, possamos falar mais amiúde sobre a vida, suas possibilidades, impedimentos e farsas. Talvez, assim – desnudado – o poema nasça sujinho de pasmos, soluços da imperfeição de fingir...

– Do livro O AMAR É FÓSFORO, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/3934987